29 dezembro, 2007

Aqui me encontrarás... no papel, nas ideias ou no território

o escrever que vai continuar
Leio estes textos e encontro-me, noutro: não sou eu. Fica esta comunicação com o mim.
Entre o eu e o mim jaz um amigo. Entre mim e os textos estão os outros.
Falo aqui para mim e para ti porque nas palavras sonoras que me saem saem explicações desnecessárias.
No meu lápis me encontrarás. Mas a solidão mata-se na fraternidade, no calor do desnecessário.

desmistificando nietzsche
Idolatrar o iconoclasta é como desejar sexualmente a professora.
Sou um aluno da secundária a quem deram um tópico de doutoramento.
Ou para nietzsche, como ser criança se sou camelo pequeno e leão fraco?

O grande homem diz a zaratustra, com grande ressentimento, que não quer morrer.
Que digo eu/ninguém? O mesmo que o asceta ou niilista: que também não quero morrer.
A professora marca como trabalho para casa: na próxima aula vamos todos chegar com vontade de morrer.
Agora entendo porque a desejo. É o seu poder.
Está decidido, me quedo con ella, dioniso sin nietzsche.

o mapa não é o território
E nos domínios do palpável adiro à moda dos viajantes: locais onde dormi

12 dezembro, 2007

Vinho e Nietzsche, mas com Sol

Parece que o fogo posto, ou fátuo, acabou - na casa do Neruda a olhar o pacifico que é, em muitos sítios, tão igual ao atlântico. Oceanos, momentos, pessoas, ideias, sentidos e sentimentos... tudo se repete... fica o sabor das coisas, como no vinho. Viver é tragar vinho. Foram 3 meses de embriaguez. E no fim só aquele sabor entre a língua e o palato, entre o pensar e o sentir, entre o eu e os outros - entre as palavras e as coisas há um sabor aveludado. É aqui que me abandono...

Vendedores ambulantes há muitos e é simples a indiferença emocional do "no, gracias". Tinha a mão naquela posição em que os actores a põem para parecer deficientes e tremia. Ao passar vi o montão de rebuçados no colo. A mão tremia e alguns metros depois de passar, olhei para trás e vi o trabalho de precisão do por cada um dos rebuçados dentro de um saco fininho. Sigo caminho, mais uns metros, olho para trás, e ele satisfeito com o primeiro rebucado dentro do saco fininho a tremer. Invadiu-me um arrepio e vontade de chorar. E olho outra vez para trás, mas a emoção passou - rápido demais. E nesse instante entendo que aquilo me dá prazer. Olho para trás para ter prazer... olho para trás para ter prazer... para ter prazer... o altruismo nao existe? Pois nao? Outra vez?
Quem mais poderia encontrar neste meu egoísmo emocional - inconsciente que saltou - senão Nietzsche? Vim ä america do sul falar de Nietzsche com Foucault? O regeaton vem de alguma loja perto e ao olhar para o outro lado da rua vejo Nietzsche louco e o seu cavalo pintado - mas não está a chover! O sol raia e ele, em tronco trôpego nu, dança regeaton com uma mina mulata: paum! paum! paum! Do seu bigode gigante chega-me um sorriso paternal.

Já bem no fim do moleskine, viro a página e leio uma frase que escrevi há 3 meses na Venezuela:
"Quando um homem fala, fala também a sua ignorância que o condena ao fracasso (a ignorância vive nas palavras). Quando um homem ouve, é a ignorância dos outros que o invade."

Y asi me callo...

11 dezembro, 2007

Chavez, Neruda e uma pistola

Dois assassinos, o da direita a duas maos:

Ao ver esta capa de jornal (com o Chavez) lembro imediatamente a teoria da inexistencia de criatividade. Na biblioteca de babel ha milhoes de livros que falam de um tal de TUTANKABRON e de uma mumia bolivariana encontrada na venezuela, e de todas as variantes possiveis desta historia. A biblioteca de babel deve estar cheia de muito bom humor como este.

Em baixo: a casa do poeta, a estatua do poeta, tudo o que eu trago e nas minhas costas o sol e o mar.

10 dezembro, 2007

Samba em Preludio No. 17: Baden Powell vs Dotzaeur

Decidi comecar a tocar violoncelo ha 7 ou 8 anos quando ouvi a Sofia tocar o estudo 17 do Dotzaeur (um dos primeiros estudos para o vibrato). A melodia é...

Curiosamente, o Baden Powell conta que o Vinicius o acusou de plagio de Chopin no "Samba em Preludio": "Ah, nao eh plagio? Entao o chopin esqueceu de escrever essa".

Nao era Chopin, era Dotzaeur. Ou a memoria me engana muito ou as 4 primeiras notas (com ritmo muito semelhante) do samba em preludio e do estudo 17 de Dotzaeur sao iguais. Depois o estudo de dotzaeur tem umas duas ou tres notas a mais. Depois as musicas voltam a ser iguais por mais 3 ou 4 notas. Um pouco mais à frente as notas sao diferentes mas ainda se ouvem dois ou tres acordes iguais.

Independentemente da semelhanca, a magia esta nas duas...

Samba em Preludio:

Estatisticas Finais

Foram 88 dias de viagem em 10 paises.

Venezuela - 8 dias (Caracas, Puerto Colombia, Merida, Barinas)
Colombia - 9 dias (Cucuta, Bogota, Cali, Pasto)
Ecuador - 8 dias (Quito, Puerto Lopez, Montanitas, Guayaquil)
Peru - 16 dias (Mancora, Trujillo, Lima, Ica, Cuzco)
Bolivia - 8 dias (Copacabana, La Paz, Cochabamba, Santa Cruz)
Paraguay - 1 dia (Ciudad del Este)
Brasil - 16 dias (Iguazu, Sao Paulo, Rio de Janeiro, Floripa)
Uruguay - 4 dias (Punta del Este, Colonia del Sacramento)
Argentina - 7 dias (Buenos Aires, Mendoza, Uspallata)
Chile - 10 dias (Santiago, Pichilemu, Viña del Mar, Valparaiso, Isla Negra)

Foram umas 40 camas/pousadas e outros tantos autocarros.
Estive 350 horas dentro de um transporte: 4 horas de viagem por dia.

As despesas da viagem (em resumo) foram:
350e (voo de ida) + 720e (primeiro mes) + 855e (segundo mes) + 950e (terceiro mes) + 400e (voo de regresso) = 3275e

Personagens (listagem em massa)

A viagem esta a acabar e aproveito estes dias mortos antes do regresso para registar as coisas que sei que vao desaparecer da memoria (ou do interesse) mal aterre na lusitania...

Aqui fica uma lista de pessoas com quem falei nos ultimos 3 meses, digamos ... mais de meia hora:

Venezuela:
- manuel (ven)
- condutor do carro do tour (ven)
- mary (irelanda)
- ian (irelanda)
- chinesa que tambem ia no tour (china)
- chefe da aldeia que o tour visitou (ven)
- ajudante do chefe (ven)

Colombia:
- 2 vendedores de bilhetes em Cucuta (col)
- diego (brasil)
- luciano (argentina)
- 2 yiftachs (israel)
- o londrino (inglaterra)
- o ingles que vive na australia (inglaterra)
- a australiana (australia)
- o argentino de guia igual ao meu (argentina)
- o drogado (col)
- 2 colombianas de metro e meio (col)
- o japones de cali (japao)

Ecuador:
- adriana (ecu)
- roberto (ecu)
- o irmao da adriana (ecu)
- a mae da adriana (ecu)
- a empregada da mae da adriana (ecu)
- jacobo (espanha)
- professor de surf (ecu) - bananas assadas na areia!!!
- a quebecoise (canada)

Peru:
- 3 italianos (italia)
- o professor de fisica em paris (franca) - passei 3 dias com ele e ja nem me lembro como se chama!
- a alema (alemanha)
- o lucho (venezuela)
- o ricardo (venezuela)
- o julio andrade (peru)
- o professor de surf (peru)
- ruben cueva (peru)
- o guia das ruinas em trujillo (peru) - personagem bizarra
- barach (israel)
- claudia (peru)
- alex (peru)
- lissette (peru)
- lisa (alemanha)
- luis, avo da claudia (peru)
- pio, o basco (espanha)
- enrique (peru)
- esteban (col)
- sergio (col)
- tito guitarrista (peru)
- amiga do enrique (venezuela)
- monica (col)

Bolivia:
- 2 tugas do grupo de 5 (portugal!)
- dimitri (belgica)
- a alema tresloucada (alemanha)
- a israelita (israel)
- o australiano que ja fez africa do sul-egipto em bicicleta (australia)
- o vendedor de guitaras que toca charango (bol)
- o frances que joga cartas (franca)
- monsieur wailly (franca, ilha da reuniao)
- madame wailly (franca, ilha da reuniao)
- o alemao a quem dei uma aula de musica brasileira (alemanha)

paraguay:
- bruno (brasil)

brasil:
- o australiano louco que toca gipsy jazz (australia)
- 15 dos muitos familiares (helena, carlos, tia nena, mariana, carlao, caca, anibal, david, luciana, daniela, claudete, maria, arnaldo, jorge e rita)
- 2 brasileiras do hostel (brasil)
- o louco de jersey no hostel (inglaterra)

Este eh o ponto de excesso de carga... social. A partir daqui a interaccao baixou muito... ainda faltava um mes para o fim da viagem.

- jason (usa)
- alice (brasil)
- o professor de surf (brasil)

Uruguay:
- theo (franca)
- rogerio (brasil)

Argentina:
- sol (arg)
- camila (arg)
- xavier (espanha)
- miguel (chile)
- jesus (arg)

Chile:
- inda (inglaterra)
- marcelo e as suas duas amigas (chile)
- 2 holandeses (holanda)
- a dona da loja de surf (chile)
- a basca (franca)
- o jornalista de valparaiso (chile)

Sao quase 100 personagens. Todos eles tem uma historia, umas mais interessantes, outras menos, algumas ja contei, outras ja nem me lembro... e ha tambem os personagens que ja esqueci.

Devia ter feito um blog da viagem na asia... lembrei-me agora de um americano todo hippie que vivia na guatemala e que viajava pela tailandia. Jantamos juntos em Bangkok... o personagem estava numa cadeira de rodas... sozinho.

Sotôr

Se viajar, nao geograficamente, fosse tao facil como comprar bilhetes!
Para quë a literatura se temos a vida real?
Um blog da familia:
http://umascoisasimples.blogspot.com/

Lonely Planet, o guia turístico

Fazer esta viagem sem o Lonely Planet seria bem diferente. É um guia turistico fantástico mas, infelizmente, feito para gringos (americanos). Fica a critica que lhes mandei:

south america on a shoe string, 2007 english edition

These are my constructive comments about your guide:

-> ENGLISH - keep it simple!
Many people who travel with the english LP are non native speakers. I think you should keep your english simple by avoiding expressions and words that may be difficult for non native speakers. I learned the meaning of shabby and quirky with LP. Do you really need to use these words? :-)

-> SECURITY - don't be such a chicken!
I read "There are potential dangers to travel in SA...". I would say "there are potential dangers in being alive" :-)
I think it's all about attitude. And LP attitude is an "being afraid and cautious" attitude... relax, south america is not dangerous.

-> DRUGS
You don't recommend hitchhiking but you do not discourage the use of drugs. Well, I think you should, specially in SA where so many young gringos are doing drugs... its not the gringo trail anymore, its the cocaine trail. I've seen too many junkies travelling with LP. Is this what LP wants as its image?

-> PRICES
well, its impossible to keep updated here but you are 20% under the prices pretty much everywhere except in chile and Brazilian bus, where you are 40% under the correct price.

-> DRINKING - don't be such a gringo
While you always put a good number of (local) restaurants in town, LP ALWAYS puts the gringo places for drinking. I think you should stop listing Irish pubs in south America, that's ridiculous for a "independent travellers guide". You should list the places the locals are going to.
Moreover, I think you should avoid all those posh places I have seen listed in LP (I know you have to adapt to the readers) and GO UNDERGROUND!!!

-> ADVENTUROUS ATTITUDE
I think travelling in SA is easy and safe. So, I find a bit weird when I see the LP writer trying to convince the reader he is an adventurer. You could be more sober on this. My parents could travel in SA with no problem...

Hope this helps,
Luis

09 dezembro, 2007

Pichilemu, Chile

Macacos de Imitação

Hoje falo-vos de como o Dawkins se inspirou no Foucault e este nos estruturalistas. De criatividade e de globalização. De macacos de imitação.

Dawkins
Há já uns anos que entrei neste beco filosófico sem saída. Em Franca no meu cubículo de 18m2 de Antibes. Dawkins e o seu gene egoísta foram o pórtico. Os genes copiam-se e os "memes" também. Dawkins apresenta no seu livro "O Gene Egoísta" a sua ideia de que os genes são entidades que nos usam a nos, seres humanos, para sobreviver. Ha uma troca de entidades. O ser humano deixa de ser a entidade central e passa a ser uma entidade auxiliar de uma teoria que é centrada nos genes. Nós somos maquinas de copia e transmissão de genes, que nos usam, como maquinas, para sobreviver.
Dawkins aplica esta teoria a outro contexto: as ideias. Define os memes como unidades de cultura, em vez de unidades genéticas (como os genes). Os memes são ideias que são transmitidas, tal como os genes. Sendo que as ideias são, novamente, as entidades centrais da teoria. Nos somos maquinas de copia e transmissão de ideias.

Foucault
Foucault, inspirado pelos estruturalistas, já tinha dito o mesmo que Dawkins.
Na filosofia a questão começou com os linguistas. Os estruturalistas falam de um sistema que fala por nos. Nos somos maquinas de repetição que fazem o sistema seguir, tal como os mecanismos genéticos. Os estruturalistas esquecem o individuo e falam de uma cultura que vive por si. Entidade mais importante que o individuo.
Neste caso, são as ideias que são transmitidas: unidades de discurso e cultura. Aprendemos os discursos do sistema através da educação (numa perspectiva abrangente do termo) e limitamo-nos a misturar e repetir tudo o que aprendemos/absorvemos.
Foucault, mais linguista que os próprios estruturalistas, esquece o sistema e fala apenas de indivíduos e discursos. Discursos aprendidos e repetidos por indivíduos que transmitem elementos de cultura.

Dawkins vs Foucault
O que Dawkins faz no seu gene egoísta é copiar a ideia de Foucault e apresentá-la de uma forma mais simples e, quanto a mim, menos interessante.
Dawkins ignora a palavra discurso, que Foucault tanto gosta, e fala de ideias. Já aqui esquecendo toda a complexidade da linguística, que, quanto a Foucault, é onde jaz toda a mecânica da transmissão.
Dawkins fala de memes como unidades discretas de cultura. Foucault fala de discursos, linguista e de emaranhados inqualificaveis de unidades (sequências, series, contínuos) de cultura.

Os mecanismos da imitação
Dawkins diz que os memes que são passados tem de ser como os genes, aptos. Os mais aptos passam. Foucault fala dos mecanismos de controlo do discurso e divide-os em vários tipos. Foucault fala, por exemplo, de tabus, rituais associados ao discurso, conceito de loucura, etc.

Criatividade
Neste contexto podemos usar a analogia de Dawkins (genes/memes) para falar de criatividade. Um ser humano é tão capaz de criatividade (em termos de memes/ideias) como a natureza (em termos de genes/fenotipos).
Aqui vamos progredindo nas possibilidades infinitas do discurso (viajando na biblioteca de babel). A criatividade não existe. A criação é a chegada a novos espaços possíveis de discurso, a pontos não utilizados (desconhecidos) da biblioteca de babel. Sempre sob a permissao dos mecanismos de controlo do discurso de que Foucault fala.

Volatilidade de Significado
Por outro lado, é necessário ter em conta que um mesmo texto, pode ter significados diferentes em contextos diferentes. Voltamos a Borges e ao seu Quixote de Menard. Este ponto é interessante mas não fundamental para a questão.

Macacos de Imitação!
A síntese: tudo é copiado e nós somos máquinas de cópia. Desde que aprendemos a falar até quando aprendemos uma profissão. Passando pelos sonhos e projectos de vida, por aquilo que fazemos no dia a dia, pelas frases que dizemos. As frases que dizemos. "As frases que dizemos". "As frases que dizemos" é uma frase repetida, que EU repito. Tudo o que digo, aqui e não só, é só uma repetição misturada de coisas que de alguma forma absorvi.

Ou Contadores de Anedotas
Por outras palavras (numa perspectiva mais Dawkinzesca), o conhecimento é como uma anedota, e nós os respectivos contadores. Se for boa é memorizada e repetida, senão, é esquecida. Nesta analogia, nós vivemos em emaranhados de anedotas. Os processos de selecção destas anedotas são complexos linguisticos e psicológicos.

Globalização
Um aspecto prático deste assunto é a globalização. A partir do momento em que existem meios de comunicação capazes de fazer passar discursos/culturas a nível mundial, os mecanismos de cópia, transmissão e selecção começam! Os discursos/culturas mais aptos sobrevivem, os outros extinguem-se! A competicao da seleccao natural dos memes agora é a nível mundial...
Seria agora o lugar para uma análise da cultura global que nos invade e a sua componente norte-americana... ou para vos falar da cultura da Bolivia como um animal que de repente tem de competir pela sobrevivencia com outro animal muito mais apto (dadas as condicoes globais) e acaba a beber coca-cola em vez de mascar coca, isto eh, extingue-se...

Ética
Como reagir a isto... no próximo episódio falo de defesa das nossas ideias, isto é, da utilização da crítica na defesa da máquina de transmissão de ideias que somos.

04 dezembro, 2007

Bife e Vinho em Santiago do Chile

Sozinho no restaurante Vacas Gordas, comi um bife de 5cm de altura bem sangrento com meia garrafa de tintol. Um deleite!

03 dezembro, 2007

Intriga Medocina (argentina)

Nao sei se vao querer ler o longo texto mas eu nao vou querer esquecer esta historia! Mesmo que a prosa nao faça jus ao sucedido (ainda por cima sem corrector ortográfico).

Do cinema argentino só conheço o filme Nueve Reinas que é uma história sobre vigaristas que vigarizam vigaristas.

Depois de 15 horas de autocarro (8 das quais a dormir), chego a Mendoza (no lado centro argentino dos Andes) às 10 da manha.
Hoje é o dia 75 da viagem. Na pousada para gringos nao há camas para mim, estao cheios porque é... sexta, penso eu... sábado, diz o calendário. Os dias da semana e da viagem desaparecem. Há 50 noites atrás dormi numa pousada: isto foi há 25 pousadas atrás, talvez na Colombia ou Ecuador. As noites mal passadas dificultam a digestao da experiencia.

O aclamado vinho tinto de Mendoza nao me chegou às veias. Como a pousada estava cheia, lá fui caminhando pelas cashes da cidadezeca vinicola ate ver a hospedage sao paulo. Entrei e vi, na pousada de mau aspecto, a senhora que bem queria acordar os companheiros de quadro mas eu resolvi ficar sem os ver... tomei um banho, pousei as coisas e fui passear.

Cheguei à pousada e ali estavam dois jovens rapazes de aparencia sul-americana (pela roupa), um de cerveja ao lado, o outro de coca-cola.
Que tal? e tal... e assim comecamos a falar de futebol, claro! O Jesus, argentino era futebolista profissional, na primeira divisao da argentina; o Miguel, chileno, finalista de informatica (no olvidaré el doble más). Gostas de futebol? Si, claro! Às vezes até simulo que percebo de futebol para dar animo às conversas! Claro que acabo sempre a falar das vedetas de há 10 anos atrás, dos meus tempos de seguidor. Entre o Cristiano Ronaldo e o Messi, a conversa la ia fluindo. Um senhor dos seus 40 anos, mas menos de aparencia, entra pela area comum da pousada adentro a falar um espanhol um pouco diferente, das Asturias. Passado algum tempo, e várias saidas e entradas do terreno de conversa, chegamos à política e claro, a Chavez. Em bom espanhol das Asturias, o Xavier lá expos a suas ideias anti chavistas, tao difundidas na Europa, e eu la expus as minhas (entretanto hoje ouvi que o Chavez perdeu o referendo por 0,7%, que é para calar os que dizem que nao ha democracia na Venezuela).

A tarde alongou-se por multiplos topicos interessantes, nao pelo seu conteudo mas por estes 3 especimes que aos poucos iam mostrando a sua raridade.
O Miguel continuava a sua frenetica maratona de cerveja e já fala muito mais do que o que ouve: "O Riquelme! Ahhh, o Riquelme!".
O Jesus continua o seu discurso futebolistico enquanto aprumava o seu gel na cabeca e revia a sua roupa de ganga: "porque yo soy el 8 e juego con los dos pies" (e ao dizer isto bate, com vigor, duas vezes com as maos nas coxas).
O Xavier é um tipo calmo, simpatico, muito diplomatico, em grande forma fisica. Fala lentamente para que eu o entenda (o castelhano do Miguel chileno é mais dificil de entender que o dos espanhois). A certo ponto o Xavier levanta-se e pergunta-nos: "tenho de arranjar as unhas, os senhores importam-se que eu o faca aqui?". Ele foi e voltou e so voltei a lembrar o tema quando o vi a arranjar as unhas de lima na mao... uma visao peculiar (mais tarde apercebi-me que daria uma excelente drag-queen).

No final ficou combinado que iamos sair os 4, nessa noite, sábado. O Xavier ia a um concerto de música clássica. O Jesus conta que foi roubado no terminal de autocarros e também que tinha encontrado na noite anterior umas amigas com as quais também queria sair esta noite.

Entretanto ficamos todos prontos para sair quando o Xavier chegou do concerto. O Jesus explica que está sem dinheiro e começa a explicar-me e a pedir implicitamente dinheiro emprestado. Eu digo que lhe posso pagar a noitada mas que depois seria muito dificil ele reembolsar-me. O Miguel diz que pode emprestar-lhe (depois da-lhe a sua morada no chile), mas que nao sabe se o cartao de credito novo irá funcionar. O Jesus começa entao um discurso bastante estranho: "vens ao país dos outros e ajudas, depois eu vou ao teu país e ajudo-te". Cheirava a vigarice. E falava-me do seu manager (gestor de carreira futebolistica) mexicano que tinha muito dinheiro e que me podia pagar. Ele tinha dito que vinha de um bairro pobre. Ele tem 20 anos.

As amigas passam na pousada a buscá-lo à meia-noite, sao 10 da noite.
Estavamos na area comum e o Jesus chama o Miguel ao quarto para conversar. Depois entro eu: "onde vamos sair?". Depois chamam o Xavier. O Miguel está sentado tranquilamente na sua cama, já bem alcoolizado, e portanto tranquilo. O Xavier e o Jesus olham um para o outro com cara de caso. "Explico-lhes?" Alguns segundos de hesitaçao em que tudo me passava pela cabeça dadas as caras de caso do Jesus e Xavier. E eis que o Jesus diz: "queremos ir a um boliche (discoteca) alternativo, pode ser?". "Alternatico???". "Sim, com lesbianas, drag-queens... um pouco de tudo". O Jesus metia os pés pelas maos. O Xavier tranquilo explica: "Eu sou gay. E quero ir a uma discoteca gay". O Jesus sempre muito atrapalhado e muito pouco à vontade. O Xavier sai do quarto e o Jesus: "Vou com ele para lhe fazer companhia, voces tambem vêm?". Eu encolhi os ombros e disse que nao era problema nenhum o facto de o Xavier ser gay, mas que nao me ia meter num boliche gay simplesmente porque nao é o meu tipo. Assim decidimos que eu e o Miguel iamos a uma discoteca heterosexual e os outros a uma homosexual. O Jesus ainda nao tinha dinheiro. Ele e o Xavier ficam sós no quarto. "Gracias!" "De nada". Sai o Jesus do quarto e afinal vai sair com as amigas e nós vamos com ele mas primeiro vamos nós levar o Xavier á discoteca gay. Nisto o Xavier desaparece. Eu e o Miguel saimos para ir com ele. Quando chegamos à rua, ele já nao estava. Tinha ido sozinho sem dizer nada. Voltamos a pousada e comunicamos ao Jesus o desaparecimento do Xavier. Ele contesta com um "ahhh, que bueno!".

Lembro-me de na conversa sobre o facto de o Xavier ser gay o Jesus ter falado dos casos em que um homem diz a outro que é gay, e este é tao homofobico que o espanca. Enfim, o Jesus está tao pouco à vontade com a situaçao que acaba tendo um comportamento ou ridiculo ou inaceitavel. E ainda nao tinha dinheiro.

Os 3 na pousada ainda vamos sair. O Jesus afinal nao tem só duas amigas mas 5 que o vem buscar de carro e portanto, nós nao cabemos no carro. Vamos lá ter. "Podes-me emprestar dinheiro entao?" diz-me o Jesus. "20 pesos?" "Ah, da-me os 100 pesos que trocamos ali". Eu fico com 70 pesos, ele com 50 (sao 12EUR). E assim combinamos que nos encontravamos na discoteca Picasso com o Jesus.

Lá fui eu e o Miguel beber uma cerveja ao centro e depois de taxi até à Picasso. Entretanto passamos num banco e o Miguel Troncoso confirmou que o seu mastercard nao funciona. Muito simpatico este sujeito chileno. Mas com um discurso de alcoólico. Falava de pequenos almocos de cerveja com pao. De beber cerveja das 10 da manha até à noite. Falava da noite anterior em que tinha tomado uma garrafa de pisco sozinho e nem sequer saiu da pousada.

A disco Picasso era simpatica. O Miguel nao gostou tanto. Aqui nao se podia convidar as minas para bailar. O Miguel convidou duas ou três ao que sempre lhe respondiam com uma cara feia e um virar de costas. Tocava cumbia e la estive eu a dancar sozinho. Ele nao se mexia e só se queixava da antipatia das meninas, nao entendia que aqui o jogo era outro. Um verdadeiro choque de culturas: "as mulheres argentinas tem de evoluir!".

Nada de Jesus que la foi divertir-se com as amigas e os meus 50 pesos. Voltamos a pousada e só me lembro de o Miguel ficar chateado porque "nao temos cerveja na pousada!!!", isto às 5 da manha depois de ter passado o dia a beber. Eu sentei-me na minha cama. A minha mochila tinha a cinta da minha bolsinha de dinheiro um pouco saída por entre o espaco que o cadeado deixa ver para dentro da mochila. Abri a mochila, abri a bolsinha, tudo estava lá menos os 100 pesos que la tinha deixado. Quem os levou?

Na manha seguinte acordei cedo com o Jesus a dormir vestido na sua cama.
Tomei um banho, fiz a mala e apanhei um taxi para o terminal de autocarros. Uspallata esperava-me e a aventura já ia longa demais.

Poderia ter-lhe dado uma licao de moral ou um enxerto de porrada ou somente sacar-lhe os 100 pesos ou chamar a polícia. Ao meu estilo, retirei-me.
Fica em mim uma digestao dificil do roubo. Passou tudo em poucas horas com uma aldeia linda no meio da montanha: Uspallata (a aldeia onde foi filmado o 7 anos no tibete do Brad Pit). Nessa noite dormi do por do sol às 8 (com montanhas tibetanas bem perto) até depois do nascer do sol às 8 da manha.

28 novembro, 2007

Buenos Aires

Atravessei o Rio de la Plata:

E cheguei a Buenos Aires em grande:

25 novembro, 2007

Uruguay - Colonia del Sacramento

A mais "bonita" cidade/aldeia em que já estive. É uma ciudade colonial do outro lado do rio de Buenos Aires. Foi fundada por... portugueses, depois foi espanhola, depois foi independente e depois invadida por italianos. Eu sinto-me em Itália onde as ruas sao de pedra, há jogos de futebol na relva, as águas do mar de prata nao sao muito limpidas e todos falam espanhol com aquela entoaçao de italiano.

A maquina fotografica está estragada (depois do banho de protector solar só regista um terço das fotos) mas para quê tirar fotos se temos o google:
http://images.google.co.uk/images?hl=en&q=colonia%20del%20sacramento&oe=UTF-8&um=1&ie=UTF-8&sa=N&tab=wi

23 novembro, 2007

Floripa ou a letargia do terceiro mês

Como eu gostava de olhar o ecrã deste computador e disparar de teclas a concreta história dos últimos dias desta viagem.
Desde há uma semana, no Rio, que o cérebro parou. A exaustão chegou e já não sei mais nada. Não há capacidade de síntese, não há capacidade de análise de detalhes, não há mais força, energia... mudar cansa...

Fugi para Floripa. Uma cidade numa ilha paraíso mais a sul das cidades grandes. Aqui é tudo lindo, mas sabe o viajante que, passados alguns meses de paisagens, o paraíso já não sabe a paraíso, sabe a bonito, sabe a suave prazer de quem vê fotos. E nos Açores ou Tailândia há paisagens mais bonitas...
Foram três dias a olhar o mar com a guitarra na mão, uma noite de caipirinha, um sono relento e um despertar com vista para o quarto classificado no ranking dos paraísos terrestres. Foram três dias de descanso e logo uma viagem de 19 horas de autocarro para sul, Uruguay. E já o cérebro mostrava os mesmos sinais de cansaço de São Paulo. Serão três dias mais de descanso no Uruguay, antes da grande Buenos Aires.
É uma espécie de esgotamento cerebral mas em que o estado final é prazeroso. Sem grande energia para me mover ou pensar, escrever ou descrever. Nao longe da letargia...









16 novembro, 2007

Quero lá saber do cristo rei (detalhes de um passeio no Rio)

Na paragem carioca bem no centro do rio (ao lado do colégio literário português), a mãe diz para o pai com o filho e eu sentados ao lado:
"você errou.... eu nunca mais vou na casa de sua mãe .... e seu pai também... vocês os 4 estão fodidos comigo..... vou buscar minha roupa e vou para casa de minha irmã..."

O vendedor de guarda-chuvas grita muito alto que chove: "5 reais a sombrinha". Passa uma menina de bikini (em pleno centro da cidade) e camiseta meia molhada da chuva e ele emite, ainda mais alto e enquanto olha fixamente as suas nadegas: "barghhh, 5 reais a sombrinha".

Ao meio-dia, ia eu comprar o pao para o pequeno-almoço, entra o gordito pelo mini-mercado adentro e diz convicto: "Boa noite!". Sorrio. E já no atravessar essa rua de Ipanema - houve quem me ouvisse a rir bem alto - ao olhar para trás, vejo o gordito apressado com uma lata de cerveja em cada mao.

Havia mais um ou outro detalhe, mas aqui há barulho que não deixa lembrar...

Viver de aventureiro e a problematica social

Um senhor do meu curso, engenheiro, foi de buenos aires a new york de mota e agora escreveu um livro: http://buenayork.com/
Se por um lado acho giro, por outro, o meu lado anti-heroi fica de aperto no estomago (aperto literal, hoje é dia da oitava irritação intestinal em dois meses).
Só de pensar em escrever um livro ou ter este blog realmente famoso dá-me nauseas de narciso.

14 novembro, 2007

Titicaca e Bolivia - Memórias perdidas

Havia as memórias do lago Titicaca (3800 metros de altitude) e La Paz (a mais alta capital do mundo a 3400 metros de altitude) na Bolívia e do fabuloso passeio de bicicleta pela estrada mais perigosa do mundo (descida dos 4600 metros até aos 900 metros de altitude em 60kms). Mas logo me aparece o Rio de Janeiro que faz lembrar a Cote dAzur e que não me deixa lembrar a Bolívia.



O carnaval das ideias (apontamentos de Sao Paulo ao Rio)

Achei por bem partilhar o que me vai nas veias de cima numa típica viagem de autocarro (quando não há ninguém para conversar).

Aponto 1 - a verdade das mentiras
O que eu gostava de vos dizer é que todo este blog é inventado. Que o voo que tomei em Setembro foi para Marrocos e de lá segui vivendo outras aventuras. E que à noitinha, dia sim, dia não, fantasiei estas historiazinhas sul americanas para vos entreter em fantasia. De igual forma a aventura vai continuar ficção de São Paulo a Buenos Aires. Eu cá já vou para sul, em Bamako, onde a pele escura e as roupas finas encobrem realidades.

Aponto 2 - as veias
Ao ler as veias abertas da América latina (livro de galeano) tenho as mesmas sensações que ao ver o Salo (os 120 de Sodoma) do Pasolini. Só que aqui não há sala de cinema para sair ou génio de Pasolini para artistificar. Aqui há a realidade para a qual levanto os olhos. Depois deste livro não mais poderei ter a mesma visão política... é repensar Chavez e a coluna vertebral socialista que se estende na América do sul. Aconselho-vos só a pensarem em Chavez e no antichavismo que se vende por todo o mundo com mais precaução. Talvez seja um mal necessário, é o que fica deste livro.

Aponto 3 - nem tudo o que reluz é merda, mas...
E não muito distante do tema anterior vem o marketing. O marketing é a arte de lavar cérebros. Todos os males do mundo moderno se devem ao marketing. Se bem que apresenta problemas interessantes, a sua aplicação global tem efeitos desastrosos. Sem me alongar sobre este assunto fundamental... não resisti... é que a criança come Cheetos e bebe Coca-cola. Chavez talvez tenha razão. O Diabo existe. Ou talvez seja preciso convencer o povo, através do marketing, que ele existe. Chavez usa o marketing (propaganda) contra o marketing. Não é muito diferente.

Aponto 4 - o vendedor com xadrez
Memórias perdidas nesta aventura não faltam mas não quero perder a do menino vendedor de bebidas que jogava xadrez.
Em Trujillo, Peru, há já umas semanas, sentado no chão espera o autocarro. Passa o rapaz de 10 anos a vender agua e refrigerantes. Imagem normal que nem quero ver, digo "no, gracias". Passados 5 minutos o rapaz está sentado no banco em frente a mim a brincar com um tabuleiro de xadrez. Alguns olhares. "Sabes jogar?". Ele tinha só uma vaga ideia das regras mas lá lhe ensinei melhor as regras e fizemos o jogo com conversa. Lá para o meio ele diz-me que é o seu aniversário. Aí caiu o meu sorriso e só disparei um feliz aniversário, esperei o fim do jogo e meti-me no autocarro para outra cidade.
Ele disse que era filho dos vendedores da estação e trabalhava como ambulante depois da escola. Que lhe tinham dado o tabuleiro de prenda de anos. É triste um aniversário sem festa mas muito mais triste é acreditar numa criança que mente ou não acreditar numa criança que não mente.

Aponto 5 - o preto caído
Numa praça de São Paulo o preto cai redondo de bêbado no asfalto e fica no meio da estrada meio morto. E nós passamos....

Aponto 6 - igrejas
A igreja internacional da graça de Deus concorre com a igreja universal do reino de Deus. Eu riu-me muito por dentro.

Aponto 7 - cores
Qual a tua cor favorita?
Depende da textura.

11 novembro, 2007

a sala de livros e o desassossego

na sala da casa dela não há nada. só uma mesa transparente com vista para paredes brancas; e ao longo dos rodapés, em espaços, por interstícios!!!!, espalham-se os livros. no meio uma colcha e uma almofada. deitado. e os livros do lado da cara são de direito. tenho sono. dobro o pescoço e não consigo ler. encostado à parede.

abro e releio e nestas páginas... um grande sorriso... tanta coisa que vivo, tanto tempo sem o abrir, tanta vida, tanta tentativa!!! e o livro do desassossego sempre la... como um grande amigo que não vi em anos.

os nós de palavras ideias e tudo que ele me dá...

um monumento na praça da vida. andar em volta do livro rocha fechado (o autocarro da tentativa passa de meia em meia hora), e abri-lo a espaços, por interstícios, para ver que já tudo está la escrito.
em cada frase uma pérola, uma saudade... mas sempre naquele estilo de masturbador intelectual do pessoa, fingido... e brutal, sempre todo autenticidade.

alguns exemplos tirados ao folhear:
"da rua dos dourados até ao impossivel..."
"a vida é como se me batessem com ela.."
"querer ir morrer a pequim e nao poder é das coisas que pesam sobre mim como a ideia dum cataclismo vindouro"
um pessoa primo de sa carneiro: "á minha incapacidade de viver crismei de genio, á minnha cobardia cobri-a de lhe chamar requinte. Pus-me a mim, deus dourado com ouro falso, num altar de papelao pintado para parecer marmore. mas a mim nao enganei nem a consciencia do meu enganar-me"
e o grande paradigma pessoano resumido: "Em mim foi sempre menor a intensidade das sensacoes que a intensidade da consciencia delas. Sofri sempre mais com a consciencia de estar sofrendo que com o sofrimento de que tinha consciencia."

interstícios - "Dói-me a vida aos poucos, a goles, por interstícios. Tudo isto está impresso em tipo muito pequeno num livro com a brochura a descoser-se." (numa carta a sa carneiro que, estranhamente, nao está nesta edicao brasileira do livro)

Nunca é demais recordar: http://luisramos.net/poetry/pessoa.php

Recortes de um jornal de Sao Paulo

Primas (em Sao Paulo)

Só para a rapaziada se roer de inveja...

Família

Parece uma seca mas nao é e explicar seria longo, sao primos em 4o e 5o grau.
Faltam as fotos dos primos em 2o e 3o grau.
Ah, a Jessica é campea nacional de ginástica artística.




10 novembro, 2007

Sampa

Chegada a Sao Paulo e a familia logo ah espera. E se havia duvidas, por os conhecer mal e terem sotaque brasileiro, ali esta a senhora que fala como a minha avó (sua irma) e me da vontade de chorar so de ouvir.

Estava a explicar, num cafe de sao paulo, que nao gosto que leiam o meu blog porque é um blog de intimidades. Mas ao dize-lo ouvi a incoerencia. Para mim a realidade é intima. Para mim nao ha gente nao intima. Dizer a um desconhecido que estou com vontade de chorar ou que estou apaixonado...

Alguma coisa acontece no meu coracao que so quando cruzo a Ipiranga e Av. S. Joao (musica do caetano sobre sao paulo, sampa)
Esta esquina de avenidas em Sao Paulo nao é nada bonita, nao tem nada de especial (havia samba ao vivo uma esquina abaixo) e é disso que a musica fala. A mim ensina-me que a realidade pouco importa ao artista. A construcao emocional da realidade, ou essa pelicula com que revestimos a realidade, em si, nao é real, mas é muitas vezes tudo o que interessa.

Ontem, num bailarico havia banda viva. Tijolo vermelho atrás da banda. Havia samba que lembrou a opera do malandro. Havia pares lindos. Havia mais samba, e um pouco de salsa, e um pouco da bossa nova, e um pouco de jazz. Eu pensava: "Meus amigos, descobri a polvora. O brasil é o melhor pais do mundo."

Sao Paulo é um cidade gigante. Paris, Londres, Barcelona mas maior e um pouco congelada no tempo, arquitectonicamente. São Paulo é a maior cidade japonesa fora do Japão, a maior cidade espanhola fora da Espanha, a maior cidade libanesa fora do Líbano, a maior cidade portuguesa fora de Portugal, etc, etc. A avenida paulista tem 2kms de torres de um lado e do outro. Todas um pouco antigas, anos 60...80 maioritariamente. Ali sim, algo aconteceu no meu coracao... pensei no playtime do tati mas logo parou a maquina de pensar... alguma coisa... é mesmo indefinido.

07 novembro, 2007

Iguazu

Na Bolívia houve um corte de estrada e obrigou-me a um desvio. Autocarro adentro... 28 horas sem paragem. Do paraguay só quase paisagem e depois Brasil.

O Brasil é verde e húmido e quente. E depois de falar um pouquinho já mudei de espanhol para brasileiro. A senhora da paragem de autocarro já me diz filho de português! ahahah, falar com sotaque brasileiro sem ser para fazer rir alguém é o máximo. É fazer uma piada constante só para mim. O Brasil não é uma descoberta, é só uma confirmação de tudo o que já tenho (e temos) do Brasil. Mais uma expansão. Muito diferente da total novidade da América espanhola.Na fronteira os policias federais já chamam as minhas memorias de algum filme ou novela. Logo a seguir, a primeira loja, uma lanchonete! E depois o onibus claro. Legau...

E como o desvio obriga, tenho de ir ver as cataratas de iguazu... onde todo o mundo vem...Visto o espírito de turista de tour e la vou eu. Tudo mal! Guias, restaurantes, tudo organizado e eu turista sigo como um animal numa manjedoura. O turista come a paisagem e tira fotos. É tudo. Já ia eu meio irritado quando o chefe do parque me diz, a meio do meu caminho pela selva, para vestir a tshirt! A sociedade na selva, não fossem as senhoras francesas ou japonesas ficarem chocadas com a minha nova pança.Bem, as cataratas e o barulho estavam ali: 70 metros de quedas em degraus de 20 metros... ao longo dos cerca de 300 metros da largura do rio iguazu. Como nos postais... mas com helicópteros com turistas, e barcos com turistas, e turistas com turistas e ... não posso mais...

A garganta do diabo à direita... umas escadas, mais barulho, agua na cara, um passadiço por cima da agua, queda de agua em baixo, queda de agua em cima, agua na cara, barulho, agua a cair, muitas quedas de agua à volta, mais agua nas costas, velhinho e velhinha de caras molhadas e mãos dadas, tento focar a agua que cai, tento parar os olhos na agua que cai, não consigo, caio sempre, volto a cima, e caio de olhos, uma paragem, a agua morrente, paragem, hipnose na agua que cai.

Meus olhos apagados,
Vede a água cair.
Das beiras dos telhados,
Cair, sempre cair.

Das beiras dos telhados,
Cair, quase morrer...
Meus olhos apagados,
E cansados de ver.

Meus olhos, afogai-vos
Na vã tristeza ambiente.
Caí e derramai-vos
Como a água morrente.
(Pessanha)





04 novembro, 2007

O meu 2008 (de um mail)

> Quais sao os teus planos?

Estou a planear mover-me para a india... em viajem primeiro e depois
talvez arranjar trabalho por la. A industria informatica indiana é muito avançada.
Apesar de nao compensar monetariamente, vou tentar arranjar um emprego
numa multinacional para ter retorno profissional.

> Não percebo porque faz sentido para ti uma outra viagem, agora pelo Oriente.

Viajar é que é viver. Viajar é aprender. Viajar é absorver. Viajar
dá-me prazer. Viajar faz-me sentir uma máquina a desempenhar as
funções para as quais foi construída.

03 novembro, 2007

Personagens

Ruben Cueva
Conheci o Ruben Cueva estava eu sentado numa poça de lama. Depois de 11kms de bicicleta pelo deserto, sem agua e com o pedal partido encontro o simpático moto-taxista metido dentro das águas termais. A família de peruanos tinha ido passear mas só o taxista se atreveu águas ferventes adentro. "Cueva por que soy un campesino.. de la montaña."

Esteban Guerra
"Yo voy a cambiar mi nombre para Paz". Colombiano de 18 anos, aos 13 cerveja, aos 15 cocaína e só aos 17 marijuana. Muita droga que, ao contrário do que considero normal, não lhe deturpa a criatividade. De run e amigos na mão, sentados na praça principal de cusco, ia lendo as suas notas. Escritos visionários, "oscuros". Falei-lhe de Baudelaire. Mostrou-me os seus desenhos de razoável técnica (segundo a minha ignorância) mas de uma originalidade (segundo a mesma) fantástica. Ao ler não lia, declamava e os braços e mãos moldavam o ritmo das palavras. Mais a cima e no meio da rua, a vendedora ambulante diz-lhe para sair do meio da rua que lhe atropela um carro. Esteban de movimentos lentos e bailante arrasta os braços dos faróis do carro ate ao céu: "eh que me vai bater de lado e me voy salir volando hasta las estrellas".

Jean Francois de Wailly
O sotor toca guitarra clássica e veio da ilha da reunião ate á Bolívia para me dizer que a reunião, a Martinica, a Guadalupe e outras são tão união europeia como a madeira ou os Açores. E que o Paco Ibañez canta a Mala Reputacion. E que os filhos são bem mais velhos que eu. E que os velhos vão devagar, para saborear. Sem esta urgência tão querida minha.

Eduardo Galeano
A bíblia da América do sul chegou-me as mãos: http://usuarios.lycos.es/politicasnet/galeano.htm. O mundo afinal não é um sítio assim tão bonito e as liçoes desgraçadas, ou a historia contada pelos perdedores, atacam o meu optimismo sempre pronto. Seja como for, nunca é tarde para gritar: "morte aos europeus, morte aos ladroes que vivem da nossa riqueza natural".

El Chi, o chileno incógnito que cantava no bar e falava com tiques de cocainomano
Antropologia filosófica, o sistema, a revolta, razão, herman hesse e os demais...
"Tenemos la coca, queremos Europa"

El Che
Hoje, "os diários da motocicleta" nao me mostraram mais do que aquilo que eu já tinha visto (e o Galeano me tinha dito). El che atravessa o rio porque os leprosos são gente. El che luta contra a desigualdade extrema. Por toda a sudamerica, e principalmente aqui na Bolívia, essa desigualdade não eh historia, eh a cores e sons.
"Deixa que o mundo te altere para que possas alterar o mundo". Se el che tivesse lido Freud o mundo não seria o mesmo...

01 novembro, 2007

Na virtude está o meio

45 dias para trás (vermelho), 45 dias para a frente (azul).

27 outubro, 2007

Indiferença Intelectual

Depois de ter rumbado ate as 7 da manha, o frio continua e anula a vontade de fazer seja o que for.
Em Lima, passeava por uma parte um pouco perigosa da cidade e parei para almoçar.
O restaurante de madeira com vitrinas repletas de garrafas de vinho era onde os trabalhadores administrativos almoçavam. A bebida do menu era chá de anis (quente) de cor amarelada: a pior bebida que já algumas vez me foi dada a provar. Talvez a segunda pior seja a Inca Kola: a famosa cola peruana também de cor amarelada e de sabor a ... pastilhas gorila!
À saída do restaurante, dois ... corpos cruzaram-se comigo e de tal forma eram diferentes que me arrepiei de surpreendido. Eram indígenas. Levavam mantas escuras de sujo por cima de roupa escura de sujo. Da pele escura e da roupa um só pensamento imediato: "nunca foi lavada". Com as duas mãos ásperas levavam, os dois, pão branco, à boca. Com uma sofreguidão que nunca tinha visto senão em ficção. Ao ver a fome parei.
Todos sabemos que morrem crianças à fome em África e até conseguimos falar disso sem que qualquer tipo de emoção nos invada. Aprendemos a indiferença intelectual. Mas se imagens e sons dessa realidade nos invadem, ai caímos.
Um pouco mais tarde, poucos quarteirões mais ah frente, vi a mulher elefante, muito semelhante ao homem elefante do lynch. Mas real e à minha frente, sem indiferença intelectual para me defender...

26 outubro, 2007

Cusco, Peru

Entretanto a festa em cusco já começou. "Yo brother, chévere!"

Pelo Peru: Huacachina e outros

Cada vez mais levo o blog a serio. Não só para vos contar o que vai passando mas também para fixar para mim o que esta a acontecer. Para me lembrar das minhas memorias.

Ainda Mancora
Apesar de ter escrito sobre muitos sítios, houve muitos de que não falei. Mancora no norte do Peru é a praia para o surf. Fica a foto com as gentes da pousada. Os nossos amigos Venezuelanos fizeram arepas (pizzas de trigo tradicionais da venezuela) para todos.


El Lucho (meu homónimo), artesão da Venezuela, viajava com a namorada e seu tio: um grupo de jovens venezuelanos. O tio (de 29 anos) tinha estudado informática e historia de arte. A gente rica de cá tem muitas vezes mais de um curso, como o Diego brasileiro que esta a estudar Direito no privado e ciências Politicas no publico.
De mancora fica na memoria o Lucho, a sua safira, e principalmente a sua amabilidade desarmante.

Ainda Lima
Depois de Mancora veio a aventura Limeña do post anterior. Não mencionei que mal cheguei a Lima vi o Carlos. Colega de faculdade que veio ao Peru cometer a sua "loucurazita burocrática". Um bravo e o primeiro português que vejo por este continente!
Encontramo-nos num centro comercial na marginal de Lima. Eu odeio centros comerciais. Mas aqui estamos ao ar livre e com esta vista:


Huacachina
Depois das aventuras mais japonesas que limeñas o Barac, a Alex e a Claudia resolveram colar-se a mim para um par de dias no "único oásis da América do sul".
Quando se diz OÁSIS aqui, pensem em tudo o que faz parte do estereotipo, tirem-lhe os camelos, ponham-lhe boogies e ai têm Huacachina.
O lugar é de fazer cair os queixos: dunas gigantes de areia e um sol fantástico a bater num lago circundado de palmeiras. O hostel tem uma piscina mesmo entre as dunas e o lago. O quarto custa quase 4 euros :-)
De manha saímos para fazer sandboard: snowboard na areia, duna a baixo. Chegamos às dunas nuns boogies loucos! Voamos dentro do boogie, literalmente!
Finalmente acho que as fotos fazem jus ao que eu vi!









25 outubro, 2007

Fotos de Lima

Chegaram as fotos de Lima. Um dos meus momentos favoritos de toda a viagem.


Nas fotos, os jovens Barach, Alex e Claudia e os velhos Luís e Luísa. Na mesa jovem um chevice (prato nacional peruano da familia do sushi), um chicaron (peixe panado), um arroz chaufa (prato peruano de ascendência chinesa) e um mix de marisco (em frente ao barach, onde se ve a perna de um lavagante a saltar). Na mesa dos velhos só o pisco sour feito em casa.

21 outubro, 2007

Lima, Peru

Disclaimer do teclado: aqui os teclados sao sempre diferentes e os acentos e letras especiais nunca estao no mesmo sitio. Muitas vezes simplesmente nao tenho paciencia para procurar-los. Dai o misto de nenhuma acentuacao, com acentuacao correcta e errada.-> ah significa a com um acento qualquer.-> e hoje o corrector ortografico nao funciona!

Ao contrário do que pode parecer viajar sozinho é muito fácil. Aqui raros sao os momentos em que estou sozinho.Várias pessoas me perguntaram como é que eu conhecia gente aqui. E foi há exactamente 48 horas, quando estava sentado na esplanada de terraco aqui da pousada que pensei nisso a ultima vez. Tinha acabado de chegar ah pousada, pousei as coisas e sentei-me na esplanada para descansar um bocado e beber qualquer coisa.
Á minha volta, uma mesa com americanos a jogar cartas e a falar ingles, duas mesas com dois casais angloparlantes, a senhora do bar e um chico mestico (onde raio esta o c de cedilha? chama-se Barak que significa raio em Hebreu). Ele fala um pouco de espanhol com a senhora do bar e deu-lhe um beijo como se ja a conhecesse ha muito tempo. Gostei disso. Pediu uma cerveja, eu outra. Na mesa ao lado da dele eu "tomava" a minha "cerveza" e lia o meu livro (A verdade das mentiras de Vargas Llosa, tenho de escrever um post sobre os livros de ca). Nesse momento comecei a pensar na questao do viajar sozinho e no processo de socializacao. E era obvio...
Com os americanos via-me a aproximar da mesa deles e a debitar um "may I join?" mas de americanos esta o mundo cheio. E as oportunidades sociais dos "gringos-puros" sao poucas. Para alem de eu so de pensar no assunto ja comecar a neurotizar com a minha ideia de americano e o seu MacBrain. A disposicao cerebral dos americanos (viajantes) é maravilhosamente monotona: Hollywood movies, going out clubbing, being very very adventourous (so I can tell my mom and friends about it and make them proud of me) e aquela pronuncia que ja me irrita. Daqui pensei que o melhor seria debitar um "could you please SHUT THE #### UP?". Acabo sempre por perder tempo cerebral demais a criticar as coisas de que nao gosto.
E ali estava o Barak, mesmo ah minha frente, a ler um livro parecido com o Lonely Planet (guia turistico que toda a gente usa aqui) mas estranho. Um trago de cerveja e logo tive de debitar "eso es un Lonely Planet?", nesta altura ainda pensava que ele poderia ser peruano, ou assim. Ele respondeu em ingles e disse que era o Lonely Planet em Hebreu. Pedi para ver. Bem, assim comecou a conversa. Felizmente nao comecou de tras para a frente como o Lonely Planet. Ou sera o meu que comeca de tras para a frente?

Dai ate agora estive sempre com ele. Ia sair com umas amigas de quem estava ah espera. Convidou-me. Nem sei bem que hei-de debitar sobre o assunto, mas aqui vai um apanhado fotografico.
Duas noites com o Barak (Israelita), a Alex (namorada do Barak, peruana com pais argentinos judeus), a Claudia (peruana de lima mas bisneta de emigrantes japoneses, "la china") e a Lisete (peruana de cuzco). Mais tarde porei as fotos deles que se tiraram ontem.

Depois de uma noite num bar, a Alex (a namorada do Barak que é a mais vistosa) desapareceu ás 3 da manha. Ela e o Barak estao sempre a discutir (em Hebreu) e ela nao tem telemovel. Pensamos que tinha fugido dele. Quando chegamos ao hostel as 6 ela estava a dormir. Tinha-se perdido e, num dos bairros mais seguros de lima, tinha passado um carro de onde dois homens sairam para tentar agarra-la para dentro. Como um rapto. Ela diz que lutou gritou e por acaso havia um carro da policia mais ah frente. Os sequestradores largaram-na e fugiram. Mas a Claudia diz que nao acredita na historia dela e que eh so um filme para confundir o Barak. O amor sulamericano em Hebreu está dificil.... ou entao Lima é que é uma cidade perigosa.
Depois houve a chegada ao hostel, mais uma dicussao em Hebreu, uma garrafa de rum, muita conversa em espanhol e a cama finalmente as 8 da manha. Ah, isto tudo no Hostel Espanha que eh o hostel mais bonito em que ja estive. Durmo num quarto com 10 camas que me custa EUR 3,20 por noite. O hostel é uma mansao colonial espanhola muito antiga e repleta de arte: bustos de filosofos gregos, a venus, pinturas classicas, plantas, flores, tartarugas no terraco, etc...
Ontem acordei e sai para ir lavar roupa ah lavandaria. Encontrei a Claudia ah espera dos outros para almocar. Coversa fiada e almoco com eles outra vez. Andar com locais é sempre melhor! Fomos almocar a um restaurante de mariscos do pai de uma amiga da Claudia (tambem japonesa). FABULOSO. Comemos muitissimo e bem, marisco (um post de comidas tambem esta por fazer): chicharon misto (peixe panado), chevice (cebolada de peixe cru, prato nacional peruano), caranguejo, arroz de marisco, etc.
Depois do almoco passeio pelas ruas da parte comercial mais tradicional. Lima aqui nao é muito diferente de bangkok!!! CAOS!!! Nesta altura eu ja fazia parte do grupo e a claudia convidou-me para o evento da noite: pisco sour em casa dela com o seu avo. Compramos pisco puro, ovos, limao e gelo para fazermos pisco sour, a bebida nacional peruana. Aqui todos ficaram chocados comigo porque estava a tentar entender como se dizia huevos aqui (dizem de uma forma diferente na venezuela). Passei meia hora a dizer huevo, juevo, huevo, juevo, huevo, juevo, huevo, juevo (um turista numa loja de bebidas a dizer alto BOLAS, TOMATES, BOLAS, TOMATES...).
Dai para a casa da Claudia.
Familia de emigrantes japoneses no peru, nos anos 30. O seu avo nasceu no peru, os pais tambem (todos de raca niponica), e ela tambem. Os pais re-emigraram de volta para o Japao nos anos 90 e a Claudia ficou no Peru com os avos. O Luis, avo da Claudia, é um senhor japones de 72 anos que nos esperava sentado na sua mesa da sala. Muito simpatico, so fala espanhol e um pouco de japones, o que torna a conversa com o Barak, que nao fala espanhol, um pouco limitada, mas muito animada. O Barak é muito simpatico e descontraido e safa-se muito bem mesmo sem falar espanhol. Chegamos e logo se comecou a preparar o pisco sour. A cerveja ja estava na mesa ah espera...
Foi uma noite longa de conversa... O Luis deita-se todos os dias as 9 e acorda as 2 para fazer desporto... tem aspecto de 50 anos. Esteve este ano nos estados unidos para conhecer pela primeira a sua irma! A Luisa, sua esposa, é uma mulher calada, que vive na cozinha e que nos prepara azeitonas, queijo, pipocas e chicharon de frango. Apesar de serem classe media, a casa é pobre, pior que a minha casa em Timor. As netas, Claudia e Melissa ambas estudam na universidade (economia e contabilidade). A Melissa, irma mais nova da Claudia, tem 23 anos e acaba agora o curso de contabilidade. Vai ser entrevistada na Deloite para fazer ou contabilidade ou auditoria, consultora! Como estagiaria pode ganhar 200EUR e depois, com alguma experiencia, pode chegar aos 400EUR. Por mes, claro! Em Lima um empregado de mesa ganha 120EUR por mes. Lembrei-me das minhas amigas alemas de Geneve que trabalham na Procter & Gamble como consultoras (emprego muito semelhante ao da Melissa) mas que ganham mais de 10 vezes mais. A desigualdade de oportunidades está sempre a dar-nos chapadas aqui. E a Melissa é uma priviligiada que pode ir ah universidade!
Felizmente o almoco foi gigantesco e o pisco e cerveja nao fizeram muito efeito.Com o Luis falei do japao. Ele é bem de direita. Como todo o bom direitista aqui (e tambem em Portugal) trata os actuais presidentes sulamericanos de comunistas. Mas o mais interessante é o que me conta do Japao... okinawa, os seus avos, os samurais e o seu sistema de honra, a relacao do japao com a china, como ele ve os chineses (antipaticos), o orgulho de o japao nunca ter sido dominado por nenhum outro pais, orgulho na ocupacao da korea e taiwan antes da segunda guera mundial, os kamikazes que os muculmanos copiaram, o corpo a corpo imbativel dos samurais so vencidos pelas bombas atomicas, "se um samurai faz algo de errado espeta o sabre no peito". Entretanto a musica japonesa antiga soava... anos 30 no japao. Depois a Claudia ja estava bebada e mudou para o bem moderno REGEATON!!! A Melissa, que se tinha juntado ha pouco ah festa, ja tinha ido para a cama porque estava bebada. E "nós, outros" ja estavamos todos, ah volta da mesa, a abanar o corpo, incluindo o Luis. A Luisa sentada no sofa, muito calada.
Nao falo do que falei que voces ja sabem. A curiosidade do Luis é infinita: Portugal, o Brasil, a Europa, os telemoveis, e de tudo um pouco. Sabe pouco sobre estas coisas, mas esta sempre pronto a disparar uma pergunta pertinente e simpatica.
Uma sessao de fotos e um taxi para uma discoteca para bailar salsa e regeaton. Ninguem tinha energia, pela noite anterior... e fomos todos para casa.
Lembro-me que ainda estive a explicar ao condutor do taxi o que era a separacao do lixo. E de ele me falar da estatua do Pizarro (o conquistador espanhol de lima) que foi retirada ha 4 anos da praca central pelo presidente da camara (alcaide) indigena. Com protestos da embaixada de espanha, claro! Ha que idolatrar o assassino!!! Aqui ha que ter orgulho na parte branca dos nossos genes, ou nao!
Hoje acordei com um grupo de gente de meia idade a cantar musica religiosa no atrio do hostel, todos brancos, todos com aspecto de ricos. Pacifica a musica. Mas acordei a insulta-los. Descendentes de assasinos, como eu!
E assim foi o meu fim de semana...

17 outubro, 2007

Morriña genevoise ou o sonho que só tinha naquela cama

De França,
Uma barra de luz cruzava
(pelo gume central)
a montanha em W invertido.
Em geometria perfeita - caia
toda a matemática, aos pés
dos meus 20 metros de casa quadrada
- no centro do acelerador.

Do outro lado, vacas roxas
e amarelos, campos
e um sol que esverdeava um país girassol.
Árvores de folha vermelha, castanha e montanha.

Na sujidade das casas ocupadas
e das nossas calças largas.
No acento francês mas amigo,
No calor fundido da prancha de neve e suor
E do vinho canela.
Eu encontrava-a dizendo "il pleut doucement".
E a fille de la montagne descia
sobre mim o encanto
d'être réveillé...

12 outubro, 2007

O sul do Ecuador e a entrada no Peru

Depois de Quito, capital do Ecuador, onde vivi, acima de tudo, uma experiência sociológica (post a fazer), atirei-me para a costa pacifica do Ecuador.

Puerto Lopez
Primeiro Puerto Lopez, uma praia também conhecida como as Galápagos dos pobres. Ir às Galápagos é muito caro (uma semana fica por, no mínimo, 1000EUR). Em Puerto Lopez apanha-se um barco até à Isla del la Plata onde se vêm baleias e passarinhos de patas azuis. Uma amostra das Galápagos.

Montañitas
Depois Montañitas, uma praia também conhecida como a capital nacional do surf.Montañitas é como Kuta (em Bali, Indonésia) mas mais pequeno e "menos sobre-desenvolvido". É praticamente impossível ser "tão sobre-desenvolvido" como Kuta (em Montanitas não há casas de massagens nem prostituição; elementos que a separam de Kuta, pelo menos supreficialmente). Bem, a praia é fantástica! Os instrutores de surf convidaram-me para um jogo de futebol e depois para uma fogueira com maduros (um post sobre comida estará para breve). Á volta da fogueira os instrutores e um grupo de gringas (gringo aqui quer dizer angloparlante). Montañitas é famoso pelas drogas que ai se consomem. Eu não vi nada á excepção do charro que rodava a brasa com os maduros. Mais tarde, ao jantar, um dos instrutores passou no restaurante onde eu jantava sozinho e sentou-se a meu lado. O rapaz devia estar mesmo muito longe com uma moca sabe-se lá de que droga. Eu recordarei a conversa sobre viajar e outros países e a pergunta que lhe fiz: "Y el Peru, te gusta?" ao que ele respondeu: "yaaaaa, buenas olas!!". Náo sei como náo me parti a rir em frente a ele...

Guayaquil
No dia seguinte fui para Guayaquil, a maior cidade do Ecuador. Caminhei à noite pelo centro e vi a que até agora é a cidade mais moderna e arranjada da viagem. Passeios sem buracos! Bancos! Iluminação da via publica! Segurança! McDonalds! Caixotes do lixo! Nokia! Estradas asfaltadas! Um festival de dança! Samsung! Uma exposição de pintura! ... enfim, a modernidade... com o bom e o mau... o desenvolvimento... a globalização... tudo o que um turista como eu não quer ver...

Machala
A sul de Guayaquil, Machala, a capital mundial da banana, "del banano". Se na Malásia vi hectares e hectares de palmeiras como nunca tinha visto, em Machala eram bananeiras! TANTOS kms! E recordo as linhas perpendiculares à estrada sem bananeiras... infinitas!

Peru
Mais abaixo no mapa e à frente no tempo, o Peru! Na costa, tal como a grande maioria das fronteiras internacionais que tenho conhecido, a fronteira entre o Ecuador e o Peru é natural. Acabam-se as bananeiras, aparecem os CACTOS! Estou no deserto! Mas melhor que um deserto normal, este tem vista para o pacífico. Hoje durmo em Mancora, uma vila de gringos e surfistas neste deserto com vista para o mar. Lindo!

E agora, vamos ao surf!

09 outubro, 2007

Gripe dos Andes

Uma gripe apanhada em Quito nao me deixa fazer surf, mas deixa-me estar fechado num cyber café quentinho a fazer posts (7 novos hoje). Ora vamos lá...

Há quem diga que os Andes devem o seu nome ao facto de estarem cultivados!? Montanha cultivada, sem socalcos... (na colombia)


Há quem diga... (na venezuela)

As Maos de Guayasamín

Estes 13 pares de maos foram pintados pelo pintor ecuatoriano Oswaldo Guayasamín. Cada par de maos tem um adjectivo associado. Os adjectivos retratados sao: protesto, ternura, silencio, medo, insaciáveis, esperanca, grito, oracao, terror, mendigo, lágrimas, meditacao e ira. Qual aassociacao correcta entre quadro e adjectivo?


Pessoas

Tenho sempre vergonha de tirar fotografias a pessoas e por isso tenho tao poucas caras...



O Yiftach de Israel (notem o lenco!), o Diego do Brasil, o Luciano da Argentina e eu.
Depois destes personagens "muy buena onda" só conheci viajantes angloparlantes... gente, em geral, muito menos interessante.








Os grandes Colombianos, vendedores de bilhetes. Que simpatia!








A amiga Adriana e o seu Roberto de Quito (Ecuador) a comer choclos com queijo (espiga de milho com queijo fresco).

Mapa e Estatística

Mapa
Ora aqui está o mapa do meu Moleskine (copyright Sara Moreira). A vermelho o que já fiz.

Estatística
Em 23 dias de viagem estive 118 horas dentro de um transporte (seja jeep, aviao, autocarro ou taxi). A média até agora é de mais de 5 horas de viagem por dia.
Em 8 dias na Venezuela gastei, em média, 30EUR/dia. Em 9 dias na Colombia gastei, em média, quase 20EUR/dia. Em 4 dias em Quito gastei, em média, 30EUR/dia.

06 outubro, 2007

Altitude

De Cucuta, cidade Colombiana que faz fronteira com a Venezuela, a Bogotá (a capital) foram 17 horas de autocarro. Ora o altímetro diz-nos que Cucuta está a 320metros de altitude, depois vem uma estrada que passa a 3000m, depois vem Bucaramanga a 960m e depois Bogotá a 2640m! Só com estes pontos (em principio há ainda mais sobe e desce) temos 4360 metros a subir e 2040 a descer!Estes números são gigantescos, mesmo se comparados com valores alpinos. A Wikipédia diz que a mais alta _cidade_ da Europa está a 2300m de altitude.
Bem, de Bogotá (2640m) ate á capital do Equador, Quito (2850m) a historia repete-se com, por exemplo, Cali a 1000m, entre outros.A estrada é a estrada panamericana, que é basicamente o meu trajecto por estas bandas.http://es.wikipedia.org/wiki/Carretera_Panamericana

E por falar em alturas. Um dos melhores momentos da viagem foi o jogo de futebol em Bogotá com uns putos de 14 anos. Passados 5 minutos já estávamos todos a arfar, de mãos nos joelhos e com tonturas: 2640m. Daqui vieram as historias dos grandes sucessos da Bolívia nas Taças Americanas quando joga em casa no seu estádio a 3600metros de altitude :-)

01 outubro, 2007

Gringolândia

Estive aqui há três dias:
http://www.eltiempo.com/nacion/oriente/2007-10-01/ARTICULO-WEB-NOTA_INTERIOR-3746250.html

Se para uns. Estar aqui na sudamerica é uma grande aventura, a maior da vida deles! Especialmente para os gringos (americanos, australianos, ingleses). Como para o rapazito que fez de buenos aires a nova york de mota. Para mim estar aqui é a coisa mais normal do mundo (a forma desta frase é uma experiência).
Não me sinto aventureiro. Milhares e milhares de pessoas já fizeram estas rotas. Não são rotas de aventura, são rotas de turismo de aventura. Aventura para esta gente é serem 6 da tarde e ainda não saberem onde vão dormir, ou ter de falar espanhol para comprar um bilhete de autocarro, ou saber que aqui há raptos.
Por outro lado, os anglófonos, em geral, dão muito valor ao fazer a viagem e depois dizerem que a fizeram. Serem vistos como aventureiros é, para a grande maioria dos viajantes, o mais importante da viagem.

Para mim, eu não sou aventureiro, os outros é que são uns atados! Sim, lamento, vocês ;-)

Há muito poucos turistas culturais aqui, turismo étnico!? Este é o turismo que me interessa. E como falo espanhol, a cultura de cá está fantasticamente disponível em todas as esquinas.

No mas gringos! Sudamericanos, claro!

30 setembro, 2007

Insónia, nirvana e outras desconstrucoes

(para quem chega pela primeira vez aqui, ler o post a baixo, bem mais palpável)

Domingo de manha, depois de uma noite de copos e 5 horas de sono acordo as 9 da manha... em Bogota.
Si me perguntas algo pela mañana, mismo en ingles, digo "si!" o "que?" ... o espanhol entranha-se.
"Porque te ries?", todos perguntam. "Porque todo es muy hermoso aquí" digo.
Há uma sentimento que me invade quando viajo, o síndrome do viajante, que mal sei descrever.
As jorradas de vida, realidade, diferença que me penetram, reflectem-se nos meus olhos e no meu sorriso permanente. Um estado de harmonia com a violenta real-diversidade.
As ideias já não são concretizáveis, são meramente visíveis. As respostas possíveis da politica, metafisica ou ética misturam-se em volta da avalanche de dados. A maquina cérebro vai sempre dizer que há uma lógica, uma realidade, um sentido. Viajar é derrotar esta inércia estruturante do nosso cérebro.

Os amigos brasileiro, argentino e israelita ajudam a torrente; o amigo colombiano que nos acompanha pela noite como se fossemos amigos de anos também ajuda ao sorriso.

Onde esta Chavez entre a propaganda? Onde estão as veias abertas da América Latina? Onde está a justiça para tantos pobres?
O que somos, sudamericanos? Porque somos? Onde estamos? Porque estamos? Onde vamos? Porque vamos? Vamos?

Há só uma teoria que me invade lentamente, que todos confirmam mas ninguém concorda: somos todos a nossa educação e a luta que temos com ela nos limites de nos mesmos.
Ética e politicamente. Cultural e socialmente.
Siddartha diz-nos que, se formos capazes de absorver o para la dos nossos limites, chega-nos um sorriso. Deleuze diz-nos que se nos perdermos ai, no nirvana, na despersonalização, nos encontraremos num final. Nietzsche também vive ai, como se houvesse um ponto de chegada. Eu não espero encontrar-me senão na medida em que regressarei a mim, a uma construção qualquer; amalgama de educação e revolta.

Museo Botero, Bogota:

Esculturas de Ernst:
http://www.bc.edu/bc_org/avp/cas/fnart/art/20th/sculpture/ernst01.jpg
A obra fundadora do surrealismo esta em Bogota:
http://www.artfacts.net/newspics/2119_Busto

29 setembro, 2007

O avião Islandês (post manual)

Assim é mais fácil para mim... (sobre o aviao de Madrid até Caracas):

Capivaras, condor, insecto gigante, piranha e papa-formigas













Los Llanos (os planos)





28 setembro, 2007

Sudamérica

Caros amigos, a vida continua, desta vez em espanhol.

O plano
O plano é passar 3 meses na América do sul e fazer um percurso aleatório entre Caracas, na Venezuela, e Santiago, no Chile. Uma trajectória em linha recta de 5000kms que atravessa na sua grande parte a cordilheira dos Andes. 5000kms em recta que muito facilmente se transformam em 10000kms de estrada sinuosa a percorrer dentro de autocarros velhos guiados por motoristas loucos e sempre com os gigantes abismo e paisagem ao lado.

O blog
Desta vez o blog será mais curto e terei de o escrever em cybercafés, o que prejudica gravemente a inspiração e a qualidade da narrativa. Por outro lado, tentarei manter o blog como um espelho triste do meu bloco de notas, espelho esse mais fiel da realidade de aqui.
Muitos posts vao ficar por fazer: um gigante sobre politica na venezuela, por exemplo, ou outro sobre a planicie gigantesca dos los llanos, outro sobre racas, outro sobre musica, outro sobre comida, outro sobre plata ($), outros sobre as conversas com o povo de cá. Enfim, fica um cheirinho.

Venezuela
Caracas tem 7,5milhoes de pessoas e 100 morrem assassinadas por ano. A cidade mais perigosa do continente? É uma cidade pobre com torres. O bairro caro e seguro onde fui desaguar tem, á saída da estacao de metro, um prédio destruído e pouca gente na rua. Assustador. Tal como o oitavo andar do hotel de 60 anos onde fiquei. Um love motel de quartos vazios e vista sobre um bairro da cidade, onde se vê vias de 7 faixas, muitos carros, um ruído ensurdecedor de transito, torres a dizer PEPSI com edifícios pobres de um andar em frente, e uma nauseá terrível dentro de mim.
Na manha seguinte nem o centro fui ver, autocarro para uma praia ali não muito longe: os prédios e carros tirados por umas palmeiras, areia branca e ondas azuis do caribe. ao jantar um peixe fresco grelhado e um quarto numa pousada colonial (colorida) com vista para o mar.
Dois dias depois um parque natural com anacondas, capivaras, jacares, condores (abutres), tartarugas, golfinhos de agua doce, veados, cobras, etc. só não vi anacondas! Mas andei a cavalo, de barco no rio de agua castanha, fiz rafting em rápidos bem rápidos.
Entretanto a fronteira com a colombia (onde quem não esta cá para ver pensa que se pode morrer, ser roubado ou ser raptado) aparece e para trás fica um pais de gente simpática, mulheres bonitas, homens machistas; país do petróleo (um litro de gasolina custa 2centimos de EUR!!!), e onde se discute em todos os cantos: chavez, chavez, chavez.
O mote estava dado para uma viagem que se avista cheia de coisas novas.


Colômbia
Quem chega á antiga capital mundial dos sequestros leva logo um grande estalo: os colombianos são as pessoas mais simpáticas do mundo. Fazer conversa com alguém na rua é fácil, o difícil é parar e continuar caminho. O meu espanhol vai de vento em popa.
Já em Bogotá, depois de 17 loucas horas de autocarro pelas montanhas, a cidade assusta-me á priori mas depois de poucos blocos de caminhada pelas ruas apercebo-me que estou seguro. Na Venezuela eu sou obviamente um gringo, aqui não, aqui há mais brancos e faz com que eu só me destaque ou pela mochila as costas ou por ser alto.
Bogotá (tal como a Colombia em geral) é uma cidade com muito melhor aspecto que Caracas (e a Venezuela em geral). Os prédios não mostram tanto tijolo, as ruas tem passeios e os jardins, apesar de cheios de lixo, estão arranjados.
Este é o pais da cocaína (aqui custa 10 vez menos que na Europa e compra-se na rua). A guerrilha é eterna porque os quartéis que protegem as plantacoes de coca também são eternos. E todos vão vivendo felizes no principal pais do enfraquecido eixo de direita sul americano.

A viagem
A cada segundo há informação nova que me invade. E os limites do meu cérebro para processar essa informação já há muito que foram ultrapassados.
Intelectualmente é um processo muito desgastante mas interessantíssimo. Emocionalmente é um processo muito desgastante mas delicioso. Aqui jaz o fundamento do prazer de viajar.