17 janeiro, 2008

Índia. Religião, Filosofia e Sociedade. Um prelúdio...

Dia 7 de Fevereiro o avião aterra em Nova Delhi, New Delhi... I should start posting in English (with indian accent).
Para que é que vou, onde vou, quanto tempo, o que vou fazer, como vou fazer... são perguntas sem respostas, que nem sequer é necessário aparecerem durante a viagem.
Deixo a obsessão das respostas. do sentido, da razão, de deus para vocês... deste lado do ecrã vive-se sem isso.



Religião: os 1000 deuses
No hinduísmo existem milhares e milhares de deuses. Há deuses para tudo... e para nada. Um resumo de uma horita de deambulação internáutica. É uma história gigantesca que começa mais ou menos assim...

Brahman é o espírito cósmico supremo que é incognoscível pelo homem. Brahman é o princípio divino não personalizado e neutro.
Os três principais deuses do hinduismo (a trindade Hindu) são considerados aspectos de Brahman: Brahma (o Criador), Vishnu (o Preservador) e Shiva(o Destruidor).
As suas esposas são respectivamente:
- Brahma tem Saraswati (deusa do conhecimento, das artes e dos rios)
- Vishnu tem Lakshmi (deusa da riqueza, fortuna, amor e beleza)
- Shiva tem Sati e depois Durga/Parvati (mãe de Ganesha, o famoso cara de elefante)
Dependendo do ramo do hinduísmo que seguimos, cada um destes deuses é mais ou menos adorado. Todos têm várias encarnações (avatars) e também vários nomes...

Filosofia: as 4 qualidades
Na filosofia aparecem no topo os Purusharthas que são as quatro qualidades ou os quatros objectivos da vida humana: Kama (prazer sensual ou amor), Artha (poder ou riqueza), Dharma (moralidade ou justiça) e Moksha (liberdade ou libertação do ciclo de encarnação).

Sociedade: as 5 castas
Na sociedade aparecem no topo as castas descritas nas escrituras hindu: Brahman (padres e professores), Kshatriya (guerreiros e politicos), Vaishya (comerciantes e artesãos), Sudra (operários) e Dalit (os intocáveis, os que não são ninguém).

Novo no blog: fotos do melhor do sudeste asiático.

Às voltas com Foucault

Quando escrevi o último texto lia o "Nietzsche" do Deleuze e tinha por perto os livros do Nietzsche para consulta. A desmistificação foi o exorcismo de Nietzsche: fechei os livros todos e guardei-os a um canto.

Com Foucault a história é diferente. Depois da "História da Loucura" vieram "As Palavras e as Coisas". Se no primeiro a prosa sempre difícil de Foucault (quase tão difícil como os aforismos de Nietzsche) foi vencida, no segundo veio muita frustração mas ficou, vejo agora, a semente.
Num alfarrabista (que devia ter fotografado) de Vina del Mar, no Chile, comprei três livrinhos de Foucault de nem 100 páginas cada: três das (famosas) conferências (ou aulas) que ele deu no Collége de France.
Apesar de serem em castelhano, estes livros para mim foram, já em Portugal, a chave para Foucault.

Na "História da Loucura" e depois na "Ordem do Discurso", Foucault diz que a loucura e a perversão não existem senão por serem uma oposição da "sanidade mental estabelecida" ou da "boa moralidade". Por outro lado diz que esses (e outros) espaços de marginalidade no limite do normal, só existem como negação do esquema de normalidade.
Se por um lado Foucault fala de mecanismos de controlo do discurso (ver texto "Macacos de Imitação") sobre os quais estes esquemas de normalidade sobrevivem, por outro, fala-nos das instituições que vigiam e fazem vigorar as suas fronteiras, nomeadamente as instituições de segurança pública e as instituições psiquiátricas, pondo os polícias e os psiquiatras no mesmo grupo. Estas fronteiras, constituídas pelos fenómenos de marginalidade, são _criadas_ pelo próprio esquema de normalidade. Por outras palavras, um louco ou um assassino só o é porque alguém o julga assim.

Eu _acredito_ mesmo nisto! Julgo a normalidade uma perversão e encaro fenómenos como a depressão, o alcoolismo, a delinquência, a droga, a prostituição, a ?guerra?, a psicose, a homossexualidade (o Foucault era gay), etc, etc, etc, como consequências naturais (ou partes integrantes) do esquema social em que vivemos e NUNCA como perversões a um sistema saudável. O moralista é SEMPRE tão perverso como o moralizado. A perversão faz parte do sistema, a perversão é o sistema, o sistema é perverso.

Nietzsche já nos tinha dito que o polícia é tão imoral como o pior dos assassinos.
Foucault acrescenta que o psicólogo/psiquiatra é tão louco como o pior dos esquizofrénicos (Foucault é formado em psicologia).

(a ver: o filme "Tropa de Elite" (Brasil) sobre polícias loucos e o indescritível "Os Mestres Loucos" de Jean Rouch com loucos tão saudáveis)