10 maio, 2007

Dispersão ou Fim

Sobre Timor não sei mais o que escrever e por isso acabo aqui o blog.
Falta uma semana para partir em viagem pela Indonésia, Tailândia, Malásia. Um mês que prevejo saboroso.

Para terminar, deixo uma escritazinha automática de há já alguns meses. É a despedida perfeita. Depois (ou até antes) de ler isto, ninguém vai ter vontade de voltar aqui (ihihihi).
Os error de ortografia, sintaxe e semântica são do leitor!


As rugas da mão voam
e o sol venta nas sementes
em mim não vai ninguém
dor

hoje terei poema
terei poema hoje
poema hoje terei

deslizo, grito, desligo, estruturo, terapizo
terapizio de terapizamentos,
rescubro as palavradas do costumizamento aldrabado
pois aldrabadamente prosseguirei a minha tarefa
poemização destruturadamente ambulatória

fogueirização do lume
lumeniscentização aereozaamente comedida
jarrar no sulco rugozamente
chavenar-te-ias se eu te substantiva-se?
guatemalar-te seria embeber-te em continentalismos
oceanificar entranhamente a onda
areia cavalarizada com crinamentos de entes azulejizados em azul
cascolarizar ou atapetar?
SEMPRE TE ATAPETAREI A VIDA, MEU AMOR!

de gosmice em gosmice vai a galinha à fonte
vais lá tu ou enche a galinha o papo?
ou te calas ou tuizo-te já
vozificar em gritos aquilo que só uma estrutura neuronal descreve

o que sente a minha consciência quando se sente?
PAREI
sinto-me! este sentir... eu, dentro! no cérebro. tás a ver, Luís?
SOU EU! estrutura neuronal.... mas com sentir!
palavras? HAHAHAHA
PALAVRAS LEVA-AS A SEMIOLOGIA!
etimologar-te-ei esse sentir todo!

Amorizaficamente, comprometo-te a fazer a fazificação das coisas de uma forma coisamente credível sem deixar de debilitificar
sem deixar de conseguir ter... humidificação controversa, amarela até!
nas nozes que são sementes bate o vento e o sol
e as rugas do velho persistem, eu.
será o deja vu supremo, quando eu for as rugas da minha mão
e a minha vida for a imagem.
uma coisa é mais que uma imagem? viverá a imagem entre a coisa e o conceito?
a imagem é o inconsciente que vive entre as coisas e as palavras.
conceito é uma palavra.
uma coisa é uma coisa.

quando a lágrima que cair não valer...

PORQUÊ DESESTRUTURAR?
Houve tempos de estrutura dentro de mim. Eu todo era estrutura. Tal como Foucault põe a sociedade estruturada em cima de gel. Também eu era assim.
Um dia fiz o que Foucault faz. Arqueologizei-me. Começou a desestruturação ... e com ela a destruição, a descontextualização e a desintegração... do eu, e de mim. Cheguei a Sísifo e chorei que queria voltar. Mas a pedra voltou a descer e era só aquele som do vento que bate nas pedra e canta como vozes de mortos a rir.
Um processo lento de hospitalização intelectual e emocional começou. Depois de descer em lama e não ver fundo, decidi sem outra opção e em pânico, edificar-me outra vez, em estrutura!
O objecto foi crescendo devagar até o acabamento amor chegar.
Agora, o objecto que cresceu, digo, é semelhante ao outro. Menos rígido. Ainda em fase de mobilação. Com aquela mobília que cai com tremores de terra.
Sorriso, móvel não resistente a tremores de terra. Na queda, lenta, em trémulo, range gritos de socorro. O bafo formando uma nuvem que, por razões de nada, amparam-no.

PORQUÊ DESESTRUTURAR?
Sou o edifício erguido por um grupo de construção composto por imbecis! Todos corruptos à causa da construção. Todos querem(os) voltar à cave. Todos sabem que a estrutura é falsa...

PORQUÊ DESESTRUTURAR?
ACABARAM-SE as fossas e as lamas. Hoje somos homem vestido de rochedo de mar calmo! Hoje construimo-nos com credo! Hoje acreditamos na autenticidade da felicidade. AHAHAHAHA. PROTEGAM-ME! AMA-NOS! E se tal o fizeres terás o objecto monumental, um colosso erguido ao ar. Espelho. Estátua.

o dedo mindinho envolto em nuvens
amarelado

e no fundo as vozes cantam:
Sou estrela ébria que perdeu os céus,
Sereia louca que deixou o mar;
Sou templo prestes a ruir sem deus,
Estátua falsa ainda erguida ao ar...

02 maio, 2007

O Mestre

Passei a manhã a ler o Guardador de Rebanhos. Passados tantos anos de o ter lido pela primeira vez, vejo a minha filosofia toda aqui: no Mestre Caeiro. O meu panteísmo é o dele. O meu olhar difuso também. A minha visão da morte, a dele.

------------------------------------------------------
XXI
Se eu pudesse trincar a terra toda
E sentir-lhe um paladar,
Seria mais feliz um momento...
(...)
Sentir como quem olha,
Pensar como quem anda,
E quando se vai morrer, lembrar-se de que o dia morre,
E que o poente é belo e é bela a noite que fica...
Assim é e assim seja...
-------------------------------------------------------


E depois o velho 49, que nunca é demais mostrar e ler ... muito devagar:
------------------------------------------------------
XLIX
Meto-me para dentro, e fecho a janela.
Trazem o candeeiro e dão as boas noites,
E a minha voz contente dá as boas noites.
Oxalá a minha vida seja sempre isto:
O dia cheio de sol, ou suave de chuva,
Ou tempestuoso como se acabasse o Mundo,
A tarde suave e os ranchos que passam
Fitados com interesse da janela,
O último olhar amigo dado ao sossego das árvores,
E depois, fechada a janela, o candeeiro aceso,
Sem ler nada, nem pensar em nada, nem dormir,
Sentir a vida correr por mim como um rio por seu leito,
E lá fora um grande silêncio como um deus que dorme.
------------------------------------------------------

01 maio, 2007

o medo

Incêndio
Se conseguires entrar em casa e
alguém estiver em fogo na tua cama
e a sombra duma cidade surgir na cera do soalho
e do tecto cair uma chuva brilhante
contínua e miudinha - não te assustes

são os teus antepassados que por um momento
se levantaram da inércia dos séculos e vêm
visitar-te

diz-lhes que vives junto ao mar onde
zarpam navios carregados com medos
do fim do mundo - diz-lhes que se consumiu
a morada de uma vida inteira e pede-lhes
para murmurarem uma última canção para os olhos
e adormece sem lágrimas - com eles no chão.

al berto in Horto de Incêndio
http://luisramos.net/poetry/um_so_poema.php#alberto

Os Olhos na Morte



O Ramelau
O Ramelau (2960m) era o ponto mais alto de Portugal antes de 74. Conta a tradição turística em Timor que ao Ramelau se vai pela noite dentro e se chega ao seu topo, depois de várias horas de jeep e 2 horas de caminhada, ao nascer do sol. Do topo do Ramelau vê-se a ilha toda, vê-se a Austrália, uma panóplia de outras ilhas, vê-se, há quem diga, Sidney.
Conta a lenda que na montanha vivem "homens pequenos" que ninguém viu. Ver um duende na montanha é uma bênção (os Timorenses são Católicos Animistas, ou algo semelhante). Conta também o velhote que quando se sobe ao Ramelau não se pode perguntar quanto tempo falta para chegar. Porque levará mais tempo. Quando se sobe ao Ramelau não se pode falar, porque levará mais tempo.
O Jantar foi no Restaurante Sara às 19h. Tristes condições a deste restaurante. A cozinha com um tecto de zinco e teias de aranha; à casa de banho ia-se de lanterna; esperamos mais de uma hora pela comida que veio fria. Como em tudo aqui, nas entrelinhas desta ineficiência terrível vinham os detalhes saborosos todos: a simpatia da cozinheira, o tradutor de chinês para tétum, o velhote que conta as lendas e nos leva à padaria com o melhor pão do país, o rótulo da garrafa de sumo de uva, etc. Como íamos escalar o monte e tínhamos comido pouco durante o dia marcamos outra refeição para as 23h na Pousada de Maubisse. O primeiro jantar atrasou-se e fizemos duas grandes refeições num espaço de 3 horas.
Depois do jantar queríamos descansar. 2 horas de sono para depois fazermos os 28kms que nos levariam a Hatobuilico e ao início da caminhada. Os quartos eram caros para tal e dividimo-nos entre a sala de estar da pousada e o jeep.
O céu estava limpo e a pousada era rodeada de montanhas por todos os lados. Fez-me lembrar Flaine em França (uma estação de ski).
Primeiro fora e depois dentro do jeep a lua e as estrelas penetravam-me. Antes de dormir falei da noite em que dormi sozinho ao relento no Gerês, no Prado do Teixeira. Lembrei o estado de espírito de então: eu sozinho com o Guardador de Rebanhos na memória. Ali, em Maubisse, era quase igual: as infra-estruturas humanas são tão pobres ou insignificantes que até permitem o "domínio da natureza".
Acordamos no jeep e seguimos caminho. Éramos 6 mais o guia. 10kms de estrada boa (para o nível Timorense) e 18kms de estradão para Hatubuilico. No início do estradão em péssimas condições vimos cavalos selvagens. Lembro-me que estava a pensar como perguntar a idade ao nosso guia que não falava Português. "ó nia iha tinan?" ou "ó iha tinan hira?". 20 era a resposta à pergunta que não cheguei a fazer.

A Queda
Lembro-me de fixar os olhos na berma da estrada e na roda do jeep que escorregava para baixo. Lembro-me de levantar os braços para proteger a cabeça. Lembro a primeira e a segunda pirueta que o jeep fez ribanceira a baixo. Lembro-me de pensar que aquilo era tão real. Lembro-me de pensar, que, como eu suspeitava, morrer não deve ser nada de especial, só um grande susto e já está.

O Despertar
Quando acordei não sabia onde estava, a pergunta que me fazia era: "estávamos a falar de quê?". Não me lembro sequer em que posição estava. Lembro-me de me levantar e voltar a cair de tonturas. Lembro-me de ouvir o Joaquim a gritar lá em cima: "SOCORRO". Deste despertar lembro-me como de um sonho vago. Levantei-me e, sem ver o que tinha, decidi imediatamente (aqui ainda estava em modo corajoso), verificar todos os meus colegas. Estava muito perto do jeep. Tentei abrir as portas, só algumas abriam. Lembro-me de percorrer os estofos do banco de trás e de esperar encontrar um corpo. Neste exacto momento... a morte do outro. Lembro a exacta textura dos estofos e a minha mão no escuro a percorrê-la em busca de um corpo morto. O jeep estava vazio. Das 7 pessoas no jeep, todos foram cuspidos (ou atiraram-se). Felizmente ninguém levava cinto. O jeep estava muito amassado. Ainda percorri a mala e juntei o máximo de roupa dentro da minha mochila. Eu já estava com frio e estava descalço. Encontrei uma das sapatilhas e calcei-a (ainda não percebi se fiz isto imediatamente depois de acordar, depois de ver o João com frio, ou mesmo mais tarde, não me lembro).
Logo acima do jeep estava o João, deitado de costas para cima, não se mexia e dizia ter dificuldades em respirar. Ele falava e concordamos (se bem me lembro) que eu devia ir ver os outros. O terreno era muito inclinado e com bastante vegetação. Subi mais um pouco e vi a Verónica deitada no chão a queixar-se muito. Tinha um olho baço (sem íris) e dizia não conseguir ver nada desse olho. Parecia não ter nada de muito grave na cabeça mas parecia ter algo nos ossos. Fiquei algum tempo para a acalmar e repeti a frase em que não acreditava mas que me acompanhou toda a noite: "tem calma, vai acabar tudo bem". Decidi continuar a verificação. Subi mais um pouco rapidamente e comecei a sentir o meu tornozelo (provavelmente torci o pé nesta caminhada e não no acidente). Vi a Sara que dizia ter a clavícula e um pé partido; e se queixava do frio.
As tonturas começaram e foi nestes instantes que a consciência do meu estado físico e o medo começaram. Tinha as mãos cheias de sangue (dois cortes na cabeça que a Sara disse, erradamente, que eram enormes) e o pé a doer. Levantei as calças e assustei-me: um buraco de 1cm de profundidade ao lado da canela. Estava com frio. Deite-me ao lado da Sara e tentei esperar que as tonturas passassem. O terreno era muito inclinado e estávamos sempre a escorregar para baixo... e a forçar os pés. Tínhamos ambos o tornozelo torcido.
Entretanto ouço a Ana a falar lá de cima da estrada. "O Joaquim está muito mal". Fiquei assustado, pensei que este mal era muito pior do que o estado em que ele realmente estava. Já não o via vivo e fiquei com medo.
Neste intervalo de tempo, cerca de uma ou duas horas, em que estive com a Sara, apareceram uns timorenses junto de nós. Eu pedi-lhes para irem buscar mais roupa ao jeep: estávamos todos com muito frio (lembro-me que nesta altura tirei a meia que tinha por estar toda molhada). Não me lembro se nesta altura a Sara e a Verónica já tinham os sacos camas ou não, lembro-me de algumas coisas.
- Um timorense disse-me que o autocarro passava ali às 6 e eu comuniquei à Ana em voz alta que estava na estrada (o autocarro não passou);
- Lembro-me que o Marcos (o guia) estava junto da Verónica numa das vezes que lá passei. Parecia em bom estado. Sempre que o vi estava em pé e imóvel como todos os outros timorenses.
- Lembro-me de descer da posição da Sara até a posição da Verónica (cerca de 30/50 metros muito inclinados que fiz com várias quedas ... tonturas e pé torcido), não sei de onde veio o saco cama da Verónica, se ela o tinha ou se os timorenses o tinham, lembro-me de a enfiar dentro do seu saco cama e de ela se queixar muito de dores em todo o lado;
- Lembro-me de o timorense que foi buscar as coisas ao carro, ao chegar, apontar para dentro da bolsa da Sara (que tinha telemóveis e tabaco) e pedir o maço de tabaco como recompensa;
- Lembro-me de pedir a outro timorense para levar a minha mochila (que eu tinha enchido com roupas) para a estrada (a Ana tinha dito que o Joaquim estava com frio), e ele pegar na mochila e continuar a fumar o seu cigarro calmamente, só depois de eu insistir é que ele apagou o cigarro e subiu (eram pouco mais de 20 metros inclinados que alguém em bom estado faria em alguns segundos).
Após estes incidentes menos felizes com os timorenses e já de dia levantei-me de perto da Sara e tentei ver se ela conseguiria andar até à estrada. Não conseguia. Concluímos que o melhor seria eu ir à estrada e ver o que se passava com os outros. Assim fui a cambalear, lembro-me que ao subir, por um pouco não perdia o equilíbrio e caia para trás.

Na estrada o Joaquim (que saltou do jeep logo no início da queda) estava deitado de costas para cima, testa no chão e a mão no cimo da cabeça. À volta da cabeça uma toalha vermelha de sangue e a t-shirt dele também: tinha um corte gigantesco na cabeça. A Ana era a que estava em melhor estado de todos e queria mover-se, ir andar, procurar alguma ajuda. À volta deles duas fogueiras. Em volta das fogueiras aproximadamente 20 timorenses, muito próximos deles.
Entretanto a Ana encontrou alguém no grupo de timorenses que sabia que a uma distância de 1 hora a pé havia um sítio com rede telefónica. Ela e alguns timorenses lá foram em busca da rede telefónica.

O Desespero
Eram talvez 7 da manhã, 4 horas passadas do acidente, e ainda não tínhamos nenhuma garantia de que alguém aparecesse.
Deitei-me ao lado do Joaquim e tentei descansar. O Joaquim estava muito calmo, já próximo da exaustão suponho. Lembro-me de espreitar rapidamente a sua ferida para ver onde é que ele poderia carregar. Felizmente só vi uma parte do corte e aconselhei-o a carregar nessa zona mais frontal. Eu estava uma lástima, estupidamente tinha feito todos os trajectos a correr e nesta fase já não me aguentava sentado.
Lembro-me de estar a tentar dormir, descansar, relaxar, qualquer coisa, e sentir os timorenses à minha volta, MUITO perto mesmo. Os pés deles por vezes tocavam-me. Todos conversavam uns com os outros em tons que me pareciam alegres. Riam-se. Eu pedi para fazerem silêncio para podermos descansar, eles continuavam. Pedi 10 vezes e o resultado eram períodos de 10 segundos sem barulho.
Entretanto alguns timorenses começaram a trazer os outros para cima: primeiro o João (ou será que foi ele que subiu?), a Sara e depois a Verónica. O Marcos (o guia) também já estava cá em cima. Em pé e misturado com os outros timorenses. Todos estavam mais ou menos nas mesmas condições que há 5 horas atrás. Sim, eram 9 da manhã. 6 horas passadas e só a esperança do telefonema da Ana.

O Resgate
Às 9:30, pelo meio dos timorenses, um jeep da UN com o Ricardo a conduzir (Sargento Patrocínio da GNR). A operação de resgate começava.
Primeiros socorros prestados pela GNR Virgínia e dois polícias neozelandeses. Conversações com as autoridades para ver se arranjavam um helicóptero para o resgate. Eu, o Joaquim e o Marcos éramos os únicos com feridas abertas e fomos imediatamente evacuados de jeep para Maubisse. A Ana veio connosco. Os outros, só passado algum tempo, foram movidos de jeep para um terra perto dali para esperar o helicóptero. Às 4 ou 5 da tarde, o helicóptero chegava a Dili com os 3 lesionados (pernas, costelas e suspeitas de lesões de coluna). Nós, em Maubisse, fomos cosidos. Eu em cinco sítios o Joaquim só num mas muito mais longo. Os pontos doeram MUITO, e eu bem sei o que é levar pontos. Juntei mais dois aos 7 ou 8 buracos que já tinha na cabeça (mazelas do hóquei em patins). O Joaquim nunca tinha aberto a cabeça: grande calma para principiante com pontos desta dureza!
Do hospital para o helicóptero fomos de jeep, muito perto. À chegada ao helicóptero fomos imobilizados (só agora?).
No helicóptero, um MI8 de fabrico soviético, ia dentro de uma maca com cinturões que mal me deixavam respirar, a soro, gola daquelas bem grandes em que a ponta atrás estava exactamente a bater nos golpes que tinha na cabeça. Em cima de mim, a cerca de 20 cms dos olhos, uma barra de ferro e uma outra maca com o Marcos que parecia que ia mesmo cair-me em cima.

O Resultado
Encontramo-nos no hospital de Dili:
- A Ana com arranhões profundos nas costas;
- Eu com dois cortes na cabeça, dois buracos na perna, um corte profundo no dedo e um tornozelo torcido;
- O guia com um corte na cabeça e um pulso deslocado;
- O Joaquim com 29 pontos na cabeça e 2 ou 3 no tornozelo;
- A Sara com a clavícula partida e a tíbia fissurada;
- O João com 4 costelas partidas;
- A Verónica com algumas costelas partidas, os olhos bem negros das cabeçadas e alguns pontos na perna;
Todos com arranhões e pisaduras em tudo quanto é canto do corpo. Algo que temos em comum é a montanha russa da morte em forma de jeep: tantas piruetas demoram uns dias a passar. Restam-nos as tonturas e o cansaço cerebral.

Os Disparates Associados
Hoje, ao pensar em tudo, rio-me muito. A Verónica, a que mais me assutou pelo seu estado, também já se ri. Para os que acreditam em Deus, este riso sou eu a gozar com Deus e a dizer-lhe: "És tão burro, como é que me podes deixar ser tão sortudo?"
Eu nunca tive medo da morte e agora que a vi, continuo a não ter. Eu sempre tive medo da mutilação corporal e agora, continuo a ter.
Desculpem-me os que não compreendem mas eu sempre achei, e continuo a achar, a morte uma coisa boa. Um sono... o descanso merecido. Só é preciso perder os sentidos no momento certo, como aconteceu neste acidente. O despertar foi como acordar de manhã... para uma nova vida, sempre igual mas ainda mais feliz.