31 março, 2007

Ataúro

Ataúro é uma ilha satélite de Timor, mesmo em frente a Dili. Foram 2 horas de ferry-boat desde o porto de Dili, 10 minutos de carinha e chegamos às nossas cabanas de uma Eco-Village mesmo em frente à praia. A praia era só nossa: corremos, jogamos futebol, vimos corais, ouvimos o Tóqué, um lagarto, a gritar tóóóóquéééé bem alto durante a noite.
Lembro-me de estarmos a discutir temas sérios e de eu estar cansado. Fiz um apelo ao meu querido "boicote ao raciocínio estruturado". A conversa estruturada continuou e eu ia adormecendo... sem dar por ela o wiskey local (General) e a cerveja (Tiger) começaram a falar nas vozes dos meus companheiros.
Nessa noite nasceu o movimento religioso "tóquéfixe". Desde que cheguei a Timor que comecei a dizer "que fixe!" a todo o momento, e ainda não parei. Daí vem também o nome do movimento. Dissemos o "ohm" do nosso movimento na praia: expiração prolongada com "tóquéééééé" e inspiração rápida com "fixe". Escrevemos os 8+1 mandamentos do movimento, sendo que o 4º rezava assim: "O referencial do movimento será a absoluta arbitrariedade". E assim o movimento foi criado em ambiente de absoluto non-sense! Sendo que, como sempre, uns se sentiram mais livres do que outros.
Ainda tomamos banho durante a noite com a lua bem cheia e a água quente. Alguns ficaram a ver o nascer do sol no mar... eu fui dormir.

Deixo-vos algumas fotos do fim de semana paradisíaco: http://luisramos.net/pictures/IlhadeAtauro

29 março, 2007

Rotina

Aos poucos vou conhecendo a rotina que me vai levar ao fim da minha estadia em Timor.
As aulas, os alunos, a faculdade, os restaurantes, as gentes do bairro onde vivo, os Timorenses, a praia paradisiaca com água a 30 graus...
Hoje comprei uma guitarra chinesa. 47 dolares investidos em terapia musical. 30 minutos de guitarra souberam-me a catarse. Tenho de fazer desporto...
Os comícios já começaram e as eleições aproximam-se. No bairro aprende-se política... e as várias faces da democracia.

26 março, 2007

As aulas

Hoje foi o primeiro dia de aulas. Depois de 6 horas na cama, 2 horas de sono, e as aulas por preparar, aparecem-me à frente mais de 20 cabeçinhas sorridentes. Têm, em média, 20 anos.
Revelei-me um performer. Lembro-me de fazer malabarismo com os marcadores e de lhes explicar o que era o malabarismo. Os alunos mal compreendem o meu português, tenho de falar devagar e repetir a mesma coisa várias vezes. Eles querem saber sobre mim, sobre o que faço, o que fiz, especialidade, família, namorada, etc. Eu quero falar sobre o sistema binário e hexadecimal: o início da disciplina de arquitectura de computadores.
Infelizmente a confusão dos sonos não me permitiu usufruir o dia.

25 março, 2007

Caixa Aberta

Não costumo pensar nos cheiros das coisas. Nem pensar no que sinto ao cheirá-las. Mas hoje tivemos uma boleia numa carrinha de caixa aberta a caminho de Dili. A noite tinha acabado de cair (fomos à praia ver o pôr do sol) e estavam 30 graus (ou mais). À medida que íamos passando por campos, árvores, mar, churrascos, sei lá... senti-me um Jean Batiste Grenouille (a personagem d'O Perfume) agarrado a um pedaço de ferro ferrugento.

Eu quero ser Timorense!

Conhecem o estigma dos antropólogos que ganham tendências "integrativas" durante as suas visitas de campo?
Aqui em Timor sinto-me um antropólogo cultural. Ser Timorense é ser de uma raça diferente, é ser de uma cultura diferente, é ser melhor!
Eis algo que eu procurava, axioma base de mim:
O desconhecido, o outro, o vago... é múltiplo e melhor do que eu...

Ah! não ser mais que o vago, o infinito!

Ser pedaço de gelo, ser granito,

Ser rugido de tigre na floresta!

Géninhos e GOEs

Que eu já tenha visto, aqui em Timor há vários tipos de Portugueses:
- os da embaixada (que eu não conheço)
- os das missões técnicas (reconstrução e afins, que eu só conheço um)
- professores (somos cerca de 20)
- e muitos polícias: GNRs e PSPs (civpol), UNpol e GOEs.
O maior grupo é o de GNRs que são curiosamente chamados de Géninhos por alguns portugueses (professores).
Verdade seja dita, apesar de terem todos o mesmo perfil (como grande parte dos grupos profissionais), são todos muito simpáticos. Também me parece que muitos deles são experientes em missões internacionais bem piores que esta, e portanto Timor é uma situação confortável para eles. Ou talvez não.
Os GOEs são o grupo de operações especiais. Temos o número de telefone do chefe do GOE que disse (numa reunião com os professores em que não estive): "qualquer problema, telefonem". Acho que os GOE aqui em Dili são só 12 homens... mas especiais!

24 março, 2007

Mais tarde

A noite foi curta: 2 horas de sono. Às 8:30 houve jogo de futebol dos professores no pavilhão. O mesmo pavilhão albergara cerca de 24 horas antes o primeiro comício do Ramos-Horta para as presidenciais. Eu estava ainda a chegar a Dili, quem foi ao comício diz ter sido uma experiência incrível.
Mais tarde, fomos às compras. O maior super mercado de Dili é de tamanho pequeno-médio para standards europeus. Muito produtos existem em duas qualidades: indonésio e australiano. Exemplos que me lembro: coca-cola, sabonete dove, cigarros malboro (dizem que os malboro indonésios são de muito má qualidade), etc. O preço do australiano é o dobro e a qualidade também, dizem.
Foi no supermercado que falei pela primeira vez a timorenses que não da universidade. Falam quase nada Português mas alguns compreendem bem (incluindo os nossos alunos dizem-me).
À tarde fomos à praia do Cristo Rei. A praia é tropical, a água está a quase 30 graus e cá fora a temperatura estava agradável. A paisagem é bonita, ligeiramente exótica. No cimo do monte: o cristo rei. Como em Lisboa. Foi construído pelos indonésios e tem 22 metros: Timor-leste era a 22º distrito indonésio.
À noite fomos jantar a um restaurante brasileiro, a conta: 21 dólares! (dos quais 8 dólares de vinho). Nada barato.
O táxi que nos leva à próxima paragem é timorense, o "oh meu" (o nome dele é algo como ameu). "Minha mulher trabalha no bairro novo": é o marido de uma das empregadas domésticas. A primeira família timorense que conheço! Já me tinham dito que uma das empregadas domésticas tem 8 filhos, mas outra que não a mulher do "oh meu". O táxi tem um dístico de Fátima. "O meu irmão está em Portugal, em Lisboa: exílio político em 1975, 1995."
Mais tarde: num dos dois bares de Dili conheci o timorense Josh. Não fala português mas ao contrário do normal (acho eu) fala muito bom inglês. Conta que tentou ir a Portugal e não conseguiu obter visto. Para quê aprender Português, pergunta ele. Explico-lhe uma possível razão para os Timorenses não poderem ir a Portugal livremente: brain drain. Cá fora somos rodeados de crianças que nos pedem uns cêntimos de dólar. Alguém dá a um e os outros continuam a pedir com mais entusiasmo. Alguém dá a outro e todos se aproximam: passarinhos e pão... o dia vai longo e a energia curta. Os meus estados de entusiasmo e tristeza sucedem-se em vórtice.
Voltamos ao bairro e ficamos a conversar no alpendre entre as casas do bairro (a temperatura ronda sempre os 30 graus).

Prazer

Ainda é de madrugada mas já imensas novas se amontoam. O jantar da comunidade portuguesa em cima da praia. Frango e entrecosto entre professores e polícias. Um louva a deus a lembrar que não estamos em casa.
Um bar ocidental para ocidentais. Só os timorenses ricos podem pagar 5 dólares para entrar. Os timorenses são homens, os outros são portugueses e de outras nacionalidades. O bar discoteca é ao ar livre. Estão 30 graus.
Timorenses aprendem: os timorenses encostados à parede vêem os outros dançar, aprendem a cultura. A música não é muito diferente do que se ouve em Geneve.
Portugueses colonizadores: os portugueses saltam ao ritmo da música "os filhos da nação". Só conseguia ver os "brits" a saltar em todos os "pubs" do mundo ao som de todos as "rock stars". Como se o mundo fosse um Timor britânico.

23 março, 2007

Aqui são todos bonitos!

Embarque no aeroporto de Bali. Há algo que me diz que o cheiro omnipresente que não consigo caracterizar (a incenso ou a "alcatifa") é algo mau. Mas só o mesmo algo que me diz que estas criaturas, mais pequenas e mais escuras que nós, são feias!
O avião era pequeno e pingavam gotas do tecto. O ar condicionado avariado suponho. Os hospedeiros (um casal) eram particularmente "feios" e voltei a esbarrar na questão anterior.
Lá sobrevivi e aterramos em Dili. O avião é o único do aeroporto e os passageiros andam do avião até ao edifício. Ao lado do avião uma mini base militar com 3 helicópteros (australianos?) e uma tenda. Burocracias e um jipe que me leva directamente ao bairro da cooperação. Entre informações sobre as aulas, disciplinas e faculdade, surgem as tendas e barracas dos refugiados com o verde por todo o lado. Refúgio tropical. O sofrimento começa...
O bairro é um conjunto de casas de luxo para os níveis de riqueza de Dili (para um país europeu são casas muito humildes).
A visita à faculdade foi breve. Vi a sala de professores, as salas de informática (nada má), e algumas caras de alunos.
O que mais me comove não são as más condições que existem mas o facto de as personagens desta história serem de uma raça diferente: "aqui são todos bonitos!"

22 março, 2007

Singapore e Bali

Sobre as alcatifas do aeroporto de Singapura encontrei logo à saída do avião um grupo de GNRs e PSPs. "Vão de férias para o Bali?" perguntei. "Não, nós vamos para Timor" leio "vamos para coisas mais sérias". "Pois, também eu" respondi. Uma curta conversa com o "meu Major": "vou precisar do seu contacto, tenho sempre problemas informáticos.".
Os polícias portugueses têm sempre problemas informáticos. Pobres de infra-estruturas suponho. Eles foram fumar e comprar electronic devices... eu disse "até logo"... com um "espero ter mais trabalho do que vocês" em mente.
Não param de passar grupos de meninas giras vestidas todas da mesma forma (um género de traje). Devem ser as hospedeiras de bordo. Mas, visto o traje ser mesmo exótico, a ideia de ser um grupo de bailarinas saltou-me imediatamente ao cérebro.
Entrada do avião, reencontro com as hospedeiras supervisionadas por um só homem mais velho.
O voo para Denpasar no Bali foi tranquilo. À saída do aeroporto lá estavam os dois putos vestidos a rigor à nossa espera para nos levar para o Bali Vira hotel. Sim, os GNRs vinham para o mesmo hotel.
Dentro do aeroporto está um calor infernal. Só quando cheguei ao "exterior" é que me apercebi que não havia interior. Infernal era a temperatura ambiente. Ambiente de balneário de piscina! Parecem 35ºC com 100% de humidade, isto às 22 horas.
5 minutos de carro no meio do relativo caos deram-me o nó ao cérebro... pela esquerda!

No hotel pasmei. Também não há interior, a recepção não tem portas, só tecto. Um hotel paradisíaco. "Mas é o estado português que paga?". "Bem, há que aproveitar".
Banho na piscina às 11 da noite.
Mais à frente: "eles devem investir num paraíso como este para preparar a entrada no inferno".
Volto para o quarto. São 4 da tarde ou meia-noite?
Amanhã às 7, banho na piscina. 7:30. pequeno-almoço à beira da piscina. 8:00 táxi para o aeroporto. 13:00 Dili!

21 março, 2007

Prelúdio

O plano de viajem começava na maratona de Barcelona. Mas hoje, que a viajem realmente começou, percebi que os 42kms de Barcelona foram só um pequeno prelúdio.
Saída do Porto às 17:20 (GMT+1). Chegada a Frankfurt 21:20 (3 horas de voo, GMT+1). Devorei o Público como despedida de Portugal. E hoje é dia mundial da Poesia.
Saída de Frankfurt às 22:30. Chegada às 17:00 (11,5 horas de voo, GMT+7).
A viajem de 11 horas no Boing 747 correu bem, 3 horas de jantar, 6 horas de sono, 2 horas para pequeno-almoço.

20 março, 2007

A maratona em Barcelona





















4h15 de puro prazer...
Uma fotografia foi tirada por volta dos 2kms de corrida a outra aos 39kms. Adivinhem qual é qual :-)