30 setembro, 2007

Insónia, nirvana e outras desconstrucoes

(para quem chega pela primeira vez aqui, ler o post a baixo, bem mais palpável)

Domingo de manha, depois de uma noite de copos e 5 horas de sono acordo as 9 da manha... em Bogota.
Si me perguntas algo pela mañana, mismo en ingles, digo "si!" o "que?" ... o espanhol entranha-se.
"Porque te ries?", todos perguntam. "Porque todo es muy hermoso aquí" digo.
Há uma sentimento que me invade quando viajo, o síndrome do viajante, que mal sei descrever.
As jorradas de vida, realidade, diferença que me penetram, reflectem-se nos meus olhos e no meu sorriso permanente. Um estado de harmonia com a violenta real-diversidade.
As ideias já não são concretizáveis, são meramente visíveis. As respostas possíveis da politica, metafisica ou ética misturam-se em volta da avalanche de dados. A maquina cérebro vai sempre dizer que há uma lógica, uma realidade, um sentido. Viajar é derrotar esta inércia estruturante do nosso cérebro.

Os amigos brasileiro, argentino e israelita ajudam a torrente; o amigo colombiano que nos acompanha pela noite como se fossemos amigos de anos também ajuda ao sorriso.

Onde esta Chavez entre a propaganda? Onde estão as veias abertas da América Latina? Onde está a justiça para tantos pobres?
O que somos, sudamericanos? Porque somos? Onde estamos? Porque estamos? Onde vamos? Porque vamos? Vamos?

Há só uma teoria que me invade lentamente, que todos confirmam mas ninguém concorda: somos todos a nossa educação e a luta que temos com ela nos limites de nos mesmos.
Ética e politicamente. Cultural e socialmente.
Siddartha diz-nos que, se formos capazes de absorver o para la dos nossos limites, chega-nos um sorriso. Deleuze diz-nos que se nos perdermos ai, no nirvana, na despersonalização, nos encontraremos num final. Nietzsche também vive ai, como se houvesse um ponto de chegada. Eu não espero encontrar-me senão na medida em que regressarei a mim, a uma construção qualquer; amalgama de educação e revolta.

Museo Botero, Bogota:

Esculturas de Ernst:
http://www.bc.edu/bc_org/avp/cas/fnart/art/20th/sculpture/ernst01.jpg
A obra fundadora do surrealismo esta em Bogota:
http://www.artfacts.net/newspics/2119_Busto

29 setembro, 2007

O avião Islandês (post manual)

Assim é mais fácil para mim... (sobre o aviao de Madrid até Caracas):

Capivaras, condor, insecto gigante, piranha e papa-formigas













Los Llanos (os planos)





28 setembro, 2007

Sudamérica

Caros amigos, a vida continua, desta vez em espanhol.

O plano
O plano é passar 3 meses na América do sul e fazer um percurso aleatório entre Caracas, na Venezuela, e Santiago, no Chile. Uma trajectória em linha recta de 5000kms que atravessa na sua grande parte a cordilheira dos Andes. 5000kms em recta que muito facilmente se transformam em 10000kms de estrada sinuosa a percorrer dentro de autocarros velhos guiados por motoristas loucos e sempre com os gigantes abismo e paisagem ao lado.

O blog
Desta vez o blog será mais curto e terei de o escrever em cybercafés, o que prejudica gravemente a inspiração e a qualidade da narrativa. Por outro lado, tentarei manter o blog como um espelho triste do meu bloco de notas, espelho esse mais fiel da realidade de aqui.
Muitos posts vao ficar por fazer: um gigante sobre politica na venezuela, por exemplo, ou outro sobre a planicie gigantesca dos los llanos, outro sobre racas, outro sobre musica, outro sobre comida, outro sobre plata ($), outros sobre as conversas com o povo de cá. Enfim, fica um cheirinho.

Venezuela
Caracas tem 7,5milhoes de pessoas e 100 morrem assassinadas por ano. A cidade mais perigosa do continente? É uma cidade pobre com torres. O bairro caro e seguro onde fui desaguar tem, á saída da estacao de metro, um prédio destruído e pouca gente na rua. Assustador. Tal como o oitavo andar do hotel de 60 anos onde fiquei. Um love motel de quartos vazios e vista sobre um bairro da cidade, onde se vê vias de 7 faixas, muitos carros, um ruído ensurdecedor de transito, torres a dizer PEPSI com edifícios pobres de um andar em frente, e uma nauseá terrível dentro de mim.
Na manha seguinte nem o centro fui ver, autocarro para uma praia ali não muito longe: os prédios e carros tirados por umas palmeiras, areia branca e ondas azuis do caribe. ao jantar um peixe fresco grelhado e um quarto numa pousada colonial (colorida) com vista para o mar.
Dois dias depois um parque natural com anacondas, capivaras, jacares, condores (abutres), tartarugas, golfinhos de agua doce, veados, cobras, etc. só não vi anacondas! Mas andei a cavalo, de barco no rio de agua castanha, fiz rafting em rápidos bem rápidos.
Entretanto a fronteira com a colombia (onde quem não esta cá para ver pensa que se pode morrer, ser roubado ou ser raptado) aparece e para trás fica um pais de gente simpática, mulheres bonitas, homens machistas; país do petróleo (um litro de gasolina custa 2centimos de EUR!!!), e onde se discute em todos os cantos: chavez, chavez, chavez.
O mote estava dado para uma viagem que se avista cheia de coisas novas.


Colômbia
Quem chega á antiga capital mundial dos sequestros leva logo um grande estalo: os colombianos são as pessoas mais simpáticas do mundo. Fazer conversa com alguém na rua é fácil, o difícil é parar e continuar caminho. O meu espanhol vai de vento em popa.
Já em Bogotá, depois de 17 loucas horas de autocarro pelas montanhas, a cidade assusta-me á priori mas depois de poucos blocos de caminhada pelas ruas apercebo-me que estou seguro. Na Venezuela eu sou obviamente um gringo, aqui não, aqui há mais brancos e faz com que eu só me destaque ou pela mochila as costas ou por ser alto.
Bogotá (tal como a Colombia em geral) é uma cidade com muito melhor aspecto que Caracas (e a Venezuela em geral). Os prédios não mostram tanto tijolo, as ruas tem passeios e os jardins, apesar de cheios de lixo, estão arranjados.
Este é o pais da cocaína (aqui custa 10 vez menos que na Europa e compra-se na rua). A guerrilha é eterna porque os quartéis que protegem as plantacoes de coca também são eternos. E todos vão vivendo felizes no principal pais do enfraquecido eixo de direita sul americano.

A viagem
A cada segundo há informação nova que me invade. E os limites do meu cérebro para processar essa informação já há muito que foram ultrapassados.
Intelectualmente é um processo muito desgastante mas interessantíssimo. Emocionalmente é um processo muito desgastante mas delicioso. Aqui jaz o fundamento do prazer de viajar.