28 novembro, 2007

Buenos Aires

Atravessei o Rio de la Plata:

E cheguei a Buenos Aires em grande:

25 novembro, 2007

Uruguay - Colonia del Sacramento

A mais "bonita" cidade/aldeia em que já estive. É uma ciudade colonial do outro lado do rio de Buenos Aires. Foi fundada por... portugueses, depois foi espanhola, depois foi independente e depois invadida por italianos. Eu sinto-me em Itália onde as ruas sao de pedra, há jogos de futebol na relva, as águas do mar de prata nao sao muito limpidas e todos falam espanhol com aquela entoaçao de italiano.

A maquina fotografica está estragada (depois do banho de protector solar só regista um terço das fotos) mas para quê tirar fotos se temos o google:
http://images.google.co.uk/images?hl=en&q=colonia%20del%20sacramento&oe=UTF-8&um=1&ie=UTF-8&sa=N&tab=wi

23 novembro, 2007

Floripa ou a letargia do terceiro mês

Como eu gostava de olhar o ecrã deste computador e disparar de teclas a concreta história dos últimos dias desta viagem.
Desde há uma semana, no Rio, que o cérebro parou. A exaustão chegou e já não sei mais nada. Não há capacidade de síntese, não há capacidade de análise de detalhes, não há mais força, energia... mudar cansa...

Fugi para Floripa. Uma cidade numa ilha paraíso mais a sul das cidades grandes. Aqui é tudo lindo, mas sabe o viajante que, passados alguns meses de paisagens, o paraíso já não sabe a paraíso, sabe a bonito, sabe a suave prazer de quem vê fotos. E nos Açores ou Tailândia há paisagens mais bonitas...
Foram três dias a olhar o mar com a guitarra na mão, uma noite de caipirinha, um sono relento e um despertar com vista para o quarto classificado no ranking dos paraísos terrestres. Foram três dias de descanso e logo uma viagem de 19 horas de autocarro para sul, Uruguay. E já o cérebro mostrava os mesmos sinais de cansaço de São Paulo. Serão três dias mais de descanso no Uruguay, antes da grande Buenos Aires.
É uma espécie de esgotamento cerebral mas em que o estado final é prazeroso. Sem grande energia para me mover ou pensar, escrever ou descrever. Nao longe da letargia...









16 novembro, 2007

Quero lá saber do cristo rei (detalhes de um passeio no Rio)

Na paragem carioca bem no centro do rio (ao lado do colégio literário português), a mãe diz para o pai com o filho e eu sentados ao lado:
"você errou.... eu nunca mais vou na casa de sua mãe .... e seu pai também... vocês os 4 estão fodidos comigo..... vou buscar minha roupa e vou para casa de minha irmã..."

O vendedor de guarda-chuvas grita muito alto que chove: "5 reais a sombrinha". Passa uma menina de bikini (em pleno centro da cidade) e camiseta meia molhada da chuva e ele emite, ainda mais alto e enquanto olha fixamente as suas nadegas: "barghhh, 5 reais a sombrinha".

Ao meio-dia, ia eu comprar o pao para o pequeno-almoço, entra o gordito pelo mini-mercado adentro e diz convicto: "Boa noite!". Sorrio. E já no atravessar essa rua de Ipanema - houve quem me ouvisse a rir bem alto - ao olhar para trás, vejo o gordito apressado com uma lata de cerveja em cada mao.

Havia mais um ou outro detalhe, mas aqui há barulho que não deixa lembrar...

Viver de aventureiro e a problematica social

Um senhor do meu curso, engenheiro, foi de buenos aires a new york de mota e agora escreveu um livro: http://buenayork.com/
Se por um lado acho giro, por outro, o meu lado anti-heroi fica de aperto no estomago (aperto literal, hoje é dia da oitava irritação intestinal em dois meses).
Só de pensar em escrever um livro ou ter este blog realmente famoso dá-me nauseas de narciso.

14 novembro, 2007

Titicaca e Bolivia - Memórias perdidas

Havia as memórias do lago Titicaca (3800 metros de altitude) e La Paz (a mais alta capital do mundo a 3400 metros de altitude) na Bolívia e do fabuloso passeio de bicicleta pela estrada mais perigosa do mundo (descida dos 4600 metros até aos 900 metros de altitude em 60kms). Mas logo me aparece o Rio de Janeiro que faz lembrar a Cote dAzur e que não me deixa lembrar a Bolívia.



O carnaval das ideias (apontamentos de Sao Paulo ao Rio)

Achei por bem partilhar o que me vai nas veias de cima numa típica viagem de autocarro (quando não há ninguém para conversar).

Aponto 1 - a verdade das mentiras
O que eu gostava de vos dizer é que todo este blog é inventado. Que o voo que tomei em Setembro foi para Marrocos e de lá segui vivendo outras aventuras. E que à noitinha, dia sim, dia não, fantasiei estas historiazinhas sul americanas para vos entreter em fantasia. De igual forma a aventura vai continuar ficção de São Paulo a Buenos Aires. Eu cá já vou para sul, em Bamako, onde a pele escura e as roupas finas encobrem realidades.

Aponto 2 - as veias
Ao ler as veias abertas da América latina (livro de galeano) tenho as mesmas sensações que ao ver o Salo (os 120 de Sodoma) do Pasolini. Só que aqui não há sala de cinema para sair ou génio de Pasolini para artistificar. Aqui há a realidade para a qual levanto os olhos. Depois deste livro não mais poderei ter a mesma visão política... é repensar Chavez e a coluna vertebral socialista que se estende na América do sul. Aconselho-vos só a pensarem em Chavez e no antichavismo que se vende por todo o mundo com mais precaução. Talvez seja um mal necessário, é o que fica deste livro.

Aponto 3 - nem tudo o que reluz é merda, mas...
E não muito distante do tema anterior vem o marketing. O marketing é a arte de lavar cérebros. Todos os males do mundo moderno se devem ao marketing. Se bem que apresenta problemas interessantes, a sua aplicação global tem efeitos desastrosos. Sem me alongar sobre este assunto fundamental... não resisti... é que a criança come Cheetos e bebe Coca-cola. Chavez talvez tenha razão. O Diabo existe. Ou talvez seja preciso convencer o povo, através do marketing, que ele existe. Chavez usa o marketing (propaganda) contra o marketing. Não é muito diferente.

Aponto 4 - o vendedor com xadrez
Memórias perdidas nesta aventura não faltam mas não quero perder a do menino vendedor de bebidas que jogava xadrez.
Em Trujillo, Peru, há já umas semanas, sentado no chão espera o autocarro. Passa o rapaz de 10 anos a vender agua e refrigerantes. Imagem normal que nem quero ver, digo "no, gracias". Passados 5 minutos o rapaz está sentado no banco em frente a mim a brincar com um tabuleiro de xadrez. Alguns olhares. "Sabes jogar?". Ele tinha só uma vaga ideia das regras mas lá lhe ensinei melhor as regras e fizemos o jogo com conversa. Lá para o meio ele diz-me que é o seu aniversário. Aí caiu o meu sorriso e só disparei um feliz aniversário, esperei o fim do jogo e meti-me no autocarro para outra cidade.
Ele disse que era filho dos vendedores da estação e trabalhava como ambulante depois da escola. Que lhe tinham dado o tabuleiro de prenda de anos. É triste um aniversário sem festa mas muito mais triste é acreditar numa criança que mente ou não acreditar numa criança que não mente.

Aponto 5 - o preto caído
Numa praça de São Paulo o preto cai redondo de bêbado no asfalto e fica no meio da estrada meio morto. E nós passamos....

Aponto 6 - igrejas
A igreja internacional da graça de Deus concorre com a igreja universal do reino de Deus. Eu riu-me muito por dentro.

Aponto 7 - cores
Qual a tua cor favorita?
Depende da textura.

11 novembro, 2007

a sala de livros e o desassossego

na sala da casa dela não há nada. só uma mesa transparente com vista para paredes brancas; e ao longo dos rodapés, em espaços, por interstícios!!!!, espalham-se os livros. no meio uma colcha e uma almofada. deitado. e os livros do lado da cara são de direito. tenho sono. dobro o pescoço e não consigo ler. encostado à parede.

abro e releio e nestas páginas... um grande sorriso... tanta coisa que vivo, tanto tempo sem o abrir, tanta vida, tanta tentativa!!! e o livro do desassossego sempre la... como um grande amigo que não vi em anos.

os nós de palavras ideias e tudo que ele me dá...

um monumento na praça da vida. andar em volta do livro rocha fechado (o autocarro da tentativa passa de meia em meia hora), e abri-lo a espaços, por interstícios, para ver que já tudo está la escrito.
em cada frase uma pérola, uma saudade... mas sempre naquele estilo de masturbador intelectual do pessoa, fingido... e brutal, sempre todo autenticidade.

alguns exemplos tirados ao folhear:
"da rua dos dourados até ao impossivel..."
"a vida é como se me batessem com ela.."
"querer ir morrer a pequim e nao poder é das coisas que pesam sobre mim como a ideia dum cataclismo vindouro"
um pessoa primo de sa carneiro: "á minha incapacidade de viver crismei de genio, á minnha cobardia cobri-a de lhe chamar requinte. Pus-me a mim, deus dourado com ouro falso, num altar de papelao pintado para parecer marmore. mas a mim nao enganei nem a consciencia do meu enganar-me"
e o grande paradigma pessoano resumido: "Em mim foi sempre menor a intensidade das sensacoes que a intensidade da consciencia delas. Sofri sempre mais com a consciencia de estar sofrendo que com o sofrimento de que tinha consciencia."

interstícios - "Dói-me a vida aos poucos, a goles, por interstícios. Tudo isto está impresso em tipo muito pequeno num livro com a brochura a descoser-se." (numa carta a sa carneiro que, estranhamente, nao está nesta edicao brasileira do livro)

Nunca é demais recordar: http://luisramos.net/poetry/pessoa.php

Recortes de um jornal de Sao Paulo

Primas (em Sao Paulo)

Só para a rapaziada se roer de inveja...

Família

Parece uma seca mas nao é e explicar seria longo, sao primos em 4o e 5o grau.
Faltam as fotos dos primos em 2o e 3o grau.
Ah, a Jessica é campea nacional de ginástica artística.




10 novembro, 2007

Sampa

Chegada a Sao Paulo e a familia logo ah espera. E se havia duvidas, por os conhecer mal e terem sotaque brasileiro, ali esta a senhora que fala como a minha avó (sua irma) e me da vontade de chorar so de ouvir.

Estava a explicar, num cafe de sao paulo, que nao gosto que leiam o meu blog porque é um blog de intimidades. Mas ao dize-lo ouvi a incoerencia. Para mim a realidade é intima. Para mim nao ha gente nao intima. Dizer a um desconhecido que estou com vontade de chorar ou que estou apaixonado...

Alguma coisa acontece no meu coracao que so quando cruzo a Ipiranga e Av. S. Joao (musica do caetano sobre sao paulo, sampa)
Esta esquina de avenidas em Sao Paulo nao é nada bonita, nao tem nada de especial (havia samba ao vivo uma esquina abaixo) e é disso que a musica fala. A mim ensina-me que a realidade pouco importa ao artista. A construcao emocional da realidade, ou essa pelicula com que revestimos a realidade, em si, nao é real, mas é muitas vezes tudo o que interessa.

Ontem, num bailarico havia banda viva. Tijolo vermelho atrás da banda. Havia samba que lembrou a opera do malandro. Havia pares lindos. Havia mais samba, e um pouco de salsa, e um pouco da bossa nova, e um pouco de jazz. Eu pensava: "Meus amigos, descobri a polvora. O brasil é o melhor pais do mundo."

Sao Paulo é um cidade gigante. Paris, Londres, Barcelona mas maior e um pouco congelada no tempo, arquitectonicamente. São Paulo é a maior cidade japonesa fora do Japão, a maior cidade espanhola fora da Espanha, a maior cidade libanesa fora do Líbano, a maior cidade portuguesa fora de Portugal, etc, etc. A avenida paulista tem 2kms de torres de um lado e do outro. Todas um pouco antigas, anos 60...80 maioritariamente. Ali sim, algo aconteceu no meu coracao... pensei no playtime do tati mas logo parou a maquina de pensar... alguma coisa... é mesmo indefinido.

07 novembro, 2007

Iguazu

Na Bolívia houve um corte de estrada e obrigou-me a um desvio. Autocarro adentro... 28 horas sem paragem. Do paraguay só quase paisagem e depois Brasil.

O Brasil é verde e húmido e quente. E depois de falar um pouquinho já mudei de espanhol para brasileiro. A senhora da paragem de autocarro já me diz filho de português! ahahah, falar com sotaque brasileiro sem ser para fazer rir alguém é o máximo. É fazer uma piada constante só para mim. O Brasil não é uma descoberta, é só uma confirmação de tudo o que já tenho (e temos) do Brasil. Mais uma expansão. Muito diferente da total novidade da América espanhola.Na fronteira os policias federais já chamam as minhas memorias de algum filme ou novela. Logo a seguir, a primeira loja, uma lanchonete! E depois o onibus claro. Legau...

E como o desvio obriga, tenho de ir ver as cataratas de iguazu... onde todo o mundo vem...Visto o espírito de turista de tour e la vou eu. Tudo mal! Guias, restaurantes, tudo organizado e eu turista sigo como um animal numa manjedoura. O turista come a paisagem e tira fotos. É tudo. Já ia eu meio irritado quando o chefe do parque me diz, a meio do meu caminho pela selva, para vestir a tshirt! A sociedade na selva, não fossem as senhoras francesas ou japonesas ficarem chocadas com a minha nova pança.Bem, as cataratas e o barulho estavam ali: 70 metros de quedas em degraus de 20 metros... ao longo dos cerca de 300 metros da largura do rio iguazu. Como nos postais... mas com helicópteros com turistas, e barcos com turistas, e turistas com turistas e ... não posso mais...

A garganta do diabo à direita... umas escadas, mais barulho, agua na cara, um passadiço por cima da agua, queda de agua em baixo, queda de agua em cima, agua na cara, barulho, agua a cair, muitas quedas de agua à volta, mais agua nas costas, velhinho e velhinha de caras molhadas e mãos dadas, tento focar a agua que cai, tento parar os olhos na agua que cai, não consigo, caio sempre, volto a cima, e caio de olhos, uma paragem, a agua morrente, paragem, hipnose na agua que cai.

Meus olhos apagados,
Vede a água cair.
Das beiras dos telhados,
Cair, sempre cair.

Das beiras dos telhados,
Cair, quase morrer...
Meus olhos apagados,
E cansados de ver.

Meus olhos, afogai-vos
Na vã tristeza ambiente.
Caí e derramai-vos
Como a água morrente.
(Pessanha)





04 novembro, 2007

O meu 2008 (de um mail)

> Quais sao os teus planos?

Estou a planear mover-me para a india... em viajem primeiro e depois
talvez arranjar trabalho por la. A industria informatica indiana é muito avançada.
Apesar de nao compensar monetariamente, vou tentar arranjar um emprego
numa multinacional para ter retorno profissional.

> Não percebo porque faz sentido para ti uma outra viagem, agora pelo Oriente.

Viajar é que é viver. Viajar é aprender. Viajar é absorver. Viajar
dá-me prazer. Viajar faz-me sentir uma máquina a desempenhar as
funções para as quais foi construída.

03 novembro, 2007

Personagens

Ruben Cueva
Conheci o Ruben Cueva estava eu sentado numa poça de lama. Depois de 11kms de bicicleta pelo deserto, sem agua e com o pedal partido encontro o simpático moto-taxista metido dentro das águas termais. A família de peruanos tinha ido passear mas só o taxista se atreveu águas ferventes adentro. "Cueva por que soy un campesino.. de la montaña."

Esteban Guerra
"Yo voy a cambiar mi nombre para Paz". Colombiano de 18 anos, aos 13 cerveja, aos 15 cocaína e só aos 17 marijuana. Muita droga que, ao contrário do que considero normal, não lhe deturpa a criatividade. De run e amigos na mão, sentados na praça principal de cusco, ia lendo as suas notas. Escritos visionários, "oscuros". Falei-lhe de Baudelaire. Mostrou-me os seus desenhos de razoável técnica (segundo a minha ignorância) mas de uma originalidade (segundo a mesma) fantástica. Ao ler não lia, declamava e os braços e mãos moldavam o ritmo das palavras. Mais a cima e no meio da rua, a vendedora ambulante diz-lhe para sair do meio da rua que lhe atropela um carro. Esteban de movimentos lentos e bailante arrasta os braços dos faróis do carro ate ao céu: "eh que me vai bater de lado e me voy salir volando hasta las estrellas".

Jean Francois de Wailly
O sotor toca guitarra clássica e veio da ilha da reunião ate á Bolívia para me dizer que a reunião, a Martinica, a Guadalupe e outras são tão união europeia como a madeira ou os Açores. E que o Paco Ibañez canta a Mala Reputacion. E que os filhos são bem mais velhos que eu. E que os velhos vão devagar, para saborear. Sem esta urgência tão querida minha.

Eduardo Galeano
A bíblia da América do sul chegou-me as mãos: http://usuarios.lycos.es/politicasnet/galeano.htm. O mundo afinal não é um sítio assim tão bonito e as liçoes desgraçadas, ou a historia contada pelos perdedores, atacam o meu optimismo sempre pronto. Seja como for, nunca é tarde para gritar: "morte aos europeus, morte aos ladroes que vivem da nossa riqueza natural".

El Chi, o chileno incógnito que cantava no bar e falava com tiques de cocainomano
Antropologia filosófica, o sistema, a revolta, razão, herman hesse e os demais...
"Tenemos la coca, queremos Europa"

El Che
Hoje, "os diários da motocicleta" nao me mostraram mais do que aquilo que eu já tinha visto (e o Galeano me tinha dito). El che atravessa o rio porque os leprosos são gente. El che luta contra a desigualdade extrema. Por toda a sudamerica, e principalmente aqui na Bolívia, essa desigualdade não eh historia, eh a cores e sons.
"Deixa que o mundo te altere para que possas alterar o mundo". Se el che tivesse lido Freud o mundo não seria o mesmo...

01 novembro, 2007

Na virtude está o meio

45 dias para trás (vermelho), 45 dias para a frente (azul).