07 novembro, 2007

Iguazu

Na Bolívia houve um corte de estrada e obrigou-me a um desvio. Autocarro adentro... 28 horas sem paragem. Do paraguay só quase paisagem e depois Brasil.

O Brasil é verde e húmido e quente. E depois de falar um pouquinho já mudei de espanhol para brasileiro. A senhora da paragem de autocarro já me diz filho de português! ahahah, falar com sotaque brasileiro sem ser para fazer rir alguém é o máximo. É fazer uma piada constante só para mim. O Brasil não é uma descoberta, é só uma confirmação de tudo o que já tenho (e temos) do Brasil. Mais uma expansão. Muito diferente da total novidade da América espanhola.Na fronteira os policias federais já chamam as minhas memorias de algum filme ou novela. Logo a seguir, a primeira loja, uma lanchonete! E depois o onibus claro. Legau...

E como o desvio obriga, tenho de ir ver as cataratas de iguazu... onde todo o mundo vem...Visto o espírito de turista de tour e la vou eu. Tudo mal! Guias, restaurantes, tudo organizado e eu turista sigo como um animal numa manjedoura. O turista come a paisagem e tira fotos. É tudo. Já ia eu meio irritado quando o chefe do parque me diz, a meio do meu caminho pela selva, para vestir a tshirt! A sociedade na selva, não fossem as senhoras francesas ou japonesas ficarem chocadas com a minha nova pança.Bem, as cataratas e o barulho estavam ali: 70 metros de quedas em degraus de 20 metros... ao longo dos cerca de 300 metros da largura do rio iguazu. Como nos postais... mas com helicópteros com turistas, e barcos com turistas, e turistas com turistas e ... não posso mais...

A garganta do diabo à direita... umas escadas, mais barulho, agua na cara, um passadiço por cima da agua, queda de agua em baixo, queda de agua em cima, agua na cara, barulho, agua a cair, muitas quedas de agua à volta, mais agua nas costas, velhinho e velhinha de caras molhadas e mãos dadas, tento focar a agua que cai, tento parar os olhos na agua que cai, não consigo, caio sempre, volto a cima, e caio de olhos, uma paragem, a agua morrente, paragem, hipnose na agua que cai.

Meus olhos apagados,
Vede a água cair.
Das beiras dos telhados,
Cair, sempre cair.

Das beiras dos telhados,
Cair, quase morrer...
Meus olhos apagados,
E cansados de ver.

Meus olhos, afogai-vos
Na vã tristeza ambiente.
Caí e derramai-vos
Como a água morrente.
(Pessanha)





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