09 abril, 2007

Três parágrafos de metafísica OU o regresso com olhar difuso



Divagar é tão mais fácil do que descrever! Talvez seja a salvação deste blog. Aqui vai:
Cheguei a casa das férias na região Este de Timor. Se os dias em Dili são intensos, fora de Dili são ainda mais.
Não há tempo para descanso, não há estruturação racional que resista. Aqui, todos os passos são recheados de novidades, de informação, de cores novas, de sorrisos e paisagens.
Sentei-me no alpendre do bairro onde vivo em Dili e penso: "Isto é demais para mim". Uma frase de alguém pula da memória: "Alguns professores que estão cá há já algum tempo têm um brilho diferente nos olhos". É o brilho que eu quero nos meus olhos. Leva-me àquele par de páginas mágicas do Sidharta (Herman Hesse) em que o personagem atinge o Nirvana e ... "todas as imagens" se reflectem nos seus olhos, como a paisagem nas águas paradas da ribeira.
Viver cada instante desta realidade de forma sincera implica uma violência emotiva que me destrói. Ou melhor, que me desestrutura. É o caminho para o Nirvana. O Nirvana como desestruturação absoluta: a perda de identidade e a fusão com o meio.
Por outro lado, há um estrutura racional onde já não vejo sentido, e principalmente, fim. Parece já não haver energia para construir uma explicação do mundo dentro de mim. Seria "só mais um modelo do mundo" ... incompleto ou incorrecto.
Finalmente, há uma frase várias vezes repetida por aqui, é a de Witgenstein ou Heidegger que diz que "os limites do meu mundo são os limites da minha linguagem". E, claro está, tudo isto é linguagem. Que sou se não as minhas palavras?
Quer a perspectiva racional quer a difusa (Nirvana) são só partes de mim, da minha linguagem, dos meus conceitos, dos meus estereótipos. Tudo bem longe da verdade/realidade.
Resta-me o espaço difuso entre o agnosticismo, que diz que "é impossível EU (ser humano) alcançar/explicar a verdade/realidade" e o agnosticismo extremo, que diz que a verdade/realidade é absolutamente inalcançável/inexplicável. Sendo que este agnosticismo extremo é quase idêntico a considerar que a verdade/realidade não existe.

O prazer que obtenho em absorver o mundo é tão grande que não vejo sentido em estruturá-lo ou analisá-lo ou explicá-lo. Só vejo sentido nesse prazer de absorção, de fusão com a realidade.

Aqui, em Timor, há um silêncio que me invade.