Ao cair da noite cheguei de uma corrida de talvez 10kms ao longo da marginal. Ao chegar, torci a camisola do suor. O calor apertava. Não podia sair. Os mosquitos atacam ao fim da tarde. E não aguentava o ar condicionado.
De repente, começou a chover violentamente, como nunca tinha visto. Fui lá fora e fiquei a olhar a chuva. Lentamente, fui-me aproximando da água e, aos poucos, pareceria natural pôr-me debaixo daquele chuveiro enorme. Esperei... esperei. Para quebrar o impasse social alguém apareceu debaixo da chuva. Eu juntei-me imediatamente.
A chuva, como o calor, dilata os cheiros.
Em tronco nu, de braços e peito abertos ao céu ... dador de chuva. Fechei os braços e esfreguei a cara molhada. Baixei o corpo e deixei a chuva massajar-me as costas. O tempo desacelerou, esqueci o meu redor e comecei a ouvir:
"Embora lave o medo
que há do fim
a chuva apaga o fogo
que há em mim
Ouço a voz de quem
me quer tão bem
E fico a ver se a chuva
a ouvirá também..."