19 abril, 2007

Coisas

Internet
Alguém me disse que o governo de Timor Leste tem no total 13Mbps de largura de banda para acesso ao backbone internacional, isto é, a ligação de todo o país à internet é de 13Mbps. Ora, destes 13Mbps: 6Mbps são reservados ao governo e os outros 7 para uso geral, isto é: toda a gente em Timor. Quanto é que se consegue ter numa casa Portuguesa? 4Mbps?
Como tenho andado a ensinar aos meus alunos de redes, 13Mbps são pouco mais que 13300 kbps.
Na universidade temos uma rede local com cerca de 40 computadores que partilham uma ligação de internet de 256kbps.
No bairro temos uma ligação à internet de 64kbps que é partilhada por todos os professores.
Ora vamos lá falar de Quality of Service (QoS). O QoS é um serviço que ajuda a garantir que todos os utilizadores tenham a largura de banda que subscreveram. Em Timor não deve haver isso. Lembram-se dos modems que se usavam em Portugal há uns anos? Esses modems tinham velocidades de 33kbps e depois de 56kbps, aqui temos um de 64kbps. Como não há QoS (suponho), esta ligação aqui em Timor é mais lenta que esses modems em Portugal. 13Mbps dá para 200 ligações de 64, e 5 eu já as conheço.
gmail.com ao meio-dia: 30 segundos para poder por a password.
google.com? 10 segundos para carregar!
Hoje, pela primeira vez desde que cheguei vi umas páginas que não as de sobrevivência...

Supermercado
Em Dili os supermercados são muito caros. Mais caros que em Portugal. Se comprarmos produtos chineses ou indonésios talvez seja um pouco mais barato, mas a qualidade do produto é muito baixa. Por exemplo, parece ser normal os pacotes de massa virem com bichos lá dentro. O meu preço favorito é o dos pacotes de batatas fritas australianas (semelhantes às Lays) com o maravilhoso preço de 3.20 dólares.

Restaurante
Nos restaurantes em Dili arrisca-se a saúde. Vários, senão muitos, de nós já ficaram doentes. Se em Portugal ainda é tema a higiene dos restaurantes imaginem aqui. Em restaurantes com condições mínimas (seja lá o que isso for) as refeições rondam os 10 dólares (e vão até aos 20). Noutros, com menos condições, as refeições podem sair por 5 dólares. Mas atenção, aqui assumem que o menu de 5 dolares pode vir com brinde: "cha_me_mos-lhe ape_nas" irritação intestinal!

Ruas
As ruas em Dili não têm passeios. Na zona central têm-nos mas destruídos ao ponto de ser mais prático andar pela estrada.
Nas ruas do centro, entre a universidade e o bairro, vêem-se e ouvem-se nos passeios os omnipresentes vendedores de cartões de recarregamento de telemóveis. Consta que ganham uma fracção do valor. E os vendedores de jornais. E os putos vendedores ambulantes de fruta. Ah, e os ?roda-tolo? (triciclos com bancada de produtos) que vendem tabaco, bebidas e de tudo um pouco. Entre o bairro e a universidade (+ou- 400metros) um professor é abordado cerca de 10 vezes. Odeio ignorá-los, mas outra opção é impraticável.
Nas ruas de Dili abundam os não-faz-nada. Gostava de conhecer a história destas personagens que ficam/param/estão numa beira da estrada, num banco da marginal, numa esquina da estrada à sombra de um guarda-sol, à entrada do hotel, ou à porta do banco.

Edifícios
Em Dili, os edifícios com bom aspecto (nível europeu) contam-se pelos dedos das mãos. Depois há umas dezenas que também o seriam se não estivessem velhos, abandonados ou mesmo completamente queimados. No fundo da tabela de construções que poderão ser chamadas edifícios há as casas de tijolo, pequenas e em mau estado, que abundam na cidade. Ah, e há o não-sei-quê tower que tem 4 andares e é provavelmente o mais alto da cidade. Quantos elevadores haverá em Timor Leste? Fora de Dili quase não há edifícios à excepção de uns quantos nas outras "grandes cidades" deste pequeno país.

Refugiados
Vim jantar ao Hotel Timor. Este é o melhor hotel da cidade onde uma noite custa 150 doláres. Aqui vivo sempre um pouco o espírito colonialista. Este é um sítio de brancos, um sítio de portugueses. Aqui há um racismo exposto. Ou sou só eu com visão turva. Não obstante, aqui sinto-me bem, as condições são excelentes e faz-me sair um pouco do exotismo do dia a dia.
Saio do melhor hotel da cidade e, mesmo em frente, vejo o jardim que foi ocupado por refugiados. O jardim é uma massa densa de tendas onde centenas de pessoas sobrevivem. Hotel de luxo com vista para gente com fome. Em mim, vejo a indiferença a crescer.


Aponto para os meus pés e para vocês em Portugal.
É muito difícil imaginar a terra connosco na parte de baixo (de pernas para o ar). Por isso:
boa noite aí em baixo!