Disclaimer do teclado: aqui os teclados sao sempre diferentes e os acentos e letras especiais nunca estao no mesmo sitio. Muitas vezes simplesmente nao tenho paciencia para procurar-los. Dai o misto de nenhuma acentuacao, com acentuacao correcta e errada.-> ah significa a com um acento qualquer.-> e hoje o corrector ortografico nao funciona!
Ao contrário do que pode parecer viajar sozinho é muito fácil. Aqui raros sao os momentos em que estou sozinho.Várias pessoas me perguntaram como é que eu conhecia gente aqui. E foi há exactamente 48 horas, quando estava sentado na esplanada de terraco aqui da pousada que pensei nisso a ultima vez. Tinha acabado de chegar ah pousada, pousei as coisas e sentei-me na esplanada para descansar um bocado e beber qualquer coisa.
Á minha volta, uma mesa com americanos a jogar cartas e a falar ingles, duas mesas com dois casais angloparlantes, a senhora do bar e um chico mestico (onde raio esta o c de cedilha? chama-se Barak que significa raio em Hebreu). Ele fala um pouco de espanhol com a senhora do bar e deu-lhe um beijo como se ja a conhecesse ha muito tempo. Gostei disso. Pediu uma cerveja, eu outra. Na mesa ao lado da dele eu "tomava" a minha "cerveza" e lia o meu livro (A verdade das mentiras de Vargas Llosa, tenho de escrever um post sobre os livros de ca). Nesse momento comecei a pensar na questao do viajar sozinho e no processo de socializacao. E era obvio...
Com os americanos via-me a aproximar da mesa deles e a debitar um "may I join?" mas de americanos esta o mundo cheio. E as oportunidades sociais dos "gringos-puros" sao poucas. Para alem de eu so de pensar no assunto ja comecar a neurotizar com a minha ideia de americano e o seu MacBrain. A disposicao cerebral dos americanos (viajantes) é maravilhosamente monotona: Hollywood movies, going out clubbing, being very very adventourous (so I can tell my mom and friends about it and make them proud of me) e aquela pronuncia que ja me irrita. Daqui pensei que o melhor seria debitar um "could you please SHUT THE #### UP?". Acabo sempre por perder tempo cerebral demais a criticar as coisas de que nao gosto.
E ali estava o Barak, mesmo ah minha frente, a ler um livro parecido com o Lonely Planet (guia turistico que toda a gente usa aqui) mas estranho. Um trago de cerveja e logo tive de debitar "eso es un Lonely Planet?", nesta altura ainda pensava que ele poderia ser peruano, ou assim. Ele respondeu em ingles e disse que era o Lonely Planet em Hebreu. Pedi para ver. Bem, assim comecou a conversa. Felizmente nao comecou de tras para a frente como o Lonely Planet. Ou sera o meu que comeca de tras para a frente?
Dai ate agora estive sempre com ele. Ia sair com umas amigas de quem estava ah espera. Convidou-me. Nem sei bem que hei-de debitar sobre o assunto, mas aqui vai um apanhado fotografico.
Duas noites com o Barak (Israelita), a Alex (namorada do Barak, peruana com pais argentinos judeus), a Claudia (peruana de lima mas bisneta de emigrantes japoneses, "la china") e a Lisete (peruana de cuzco). Mais tarde porei as fotos deles que se tiraram ontem.
Depois de uma noite num bar, a Alex (a namorada do Barak que é a mais vistosa) desapareceu ás 3 da manha. Ela e o Barak estao sempre a discutir (em Hebreu) e ela nao tem telemovel. Pensamos que tinha fugido dele. Quando chegamos ao hostel as 6 ela estava a dormir. Tinha-se perdido e, num dos bairros mais seguros de lima, tinha passado um carro de onde dois homens sairam para tentar agarra-la para dentro. Como um rapto. Ela diz que lutou gritou e por acaso havia um carro da policia mais ah frente. Os sequestradores largaram-na e fugiram. Mas a Claudia diz que nao acredita na historia dela e que eh so um filme para confundir o Barak. O amor sulamericano em Hebreu está dificil.... ou entao Lima é que é uma cidade perigosa.
Depois houve a chegada ao hostel, mais uma dicussao em Hebreu, uma garrafa de rum, muita conversa em espanhol e a cama finalmente as 8 da manha. Ah, isto tudo no Hostel Espanha que eh o hostel mais bonito em que ja estive. Durmo num quarto com 10 camas que me custa EUR 3,20 por noite. O hostel é uma mansao colonial espanhola muito antiga e repleta de arte: bustos de filosofos gregos, a venus, pinturas classicas, plantas, flores, tartarugas no terraco, etc...
Ontem acordei e sai para ir lavar roupa ah lavandaria. Encontrei a Claudia ah espera dos outros para almocar. Coversa fiada e almoco com eles outra vez. Andar com locais é sempre melhor! Fomos almocar a um restaurante de mariscos do pai de uma amiga da Claudia (tambem japonesa). FABULOSO. Comemos muitissimo e bem, marisco (um post de comidas tambem esta por fazer): chicharon misto (peixe panado), chevice (cebolada de peixe cru, prato nacional peruano), caranguejo, arroz de marisco, etc.
Depois do almoco passeio pelas ruas da parte comercial mais tradicional. Lima aqui nao é muito diferente de bangkok!!! CAOS!!! Nesta altura eu ja fazia parte do grupo e a claudia convidou-me para o evento da noite: pisco sour em casa dela com o seu avo. Compramos pisco puro, ovos, limao e gelo para fazermos pisco sour, a bebida nacional peruana. Aqui todos ficaram chocados comigo porque estava a tentar entender como se dizia huevos aqui (dizem de uma forma diferente na venezuela). Passei meia hora a dizer huevo, juevo, huevo, juevo, huevo, juevo, huevo, juevo (um turista numa loja de bebidas a dizer alto BOLAS, TOMATES, BOLAS, TOMATES...).
Dai para a casa da Claudia.
Familia de emigrantes japoneses no peru, nos anos 30. O seu avo nasceu no peru, os pais tambem (todos de raca niponica), e ela tambem. Os pais re-emigraram de volta para o Japao nos anos 90 e a Claudia ficou no Peru com os avos. O Luis, avo da Claudia, é um senhor japones de 72 anos que nos esperava sentado na sua mesa da sala. Muito simpatico, so fala espanhol e um pouco de japones, o que torna a conversa com o Barak, que nao fala espanhol, um pouco limitada, mas muito animada. O Barak é muito simpatico e descontraido e safa-se muito bem mesmo sem falar espanhol. Chegamos e logo se comecou a preparar o pisco sour. A cerveja ja estava na mesa ah espera...
Foi uma noite longa de conversa... O Luis deita-se todos os dias as 9 e acorda as 2 para fazer desporto... tem aspecto de 50 anos. Esteve este ano nos estados unidos para conhecer pela primeira a sua irma! A Luisa, sua esposa, é uma mulher calada, que vive na cozinha e que nos prepara azeitonas, queijo, pipocas e chicharon de frango. Apesar de serem classe media, a casa é pobre, pior que a minha casa em Timor. As netas, Claudia e Melissa ambas estudam na universidade (economia e contabilidade). A Melissa, irma mais nova da Claudia, tem 23 anos e acaba agora o curso de contabilidade. Vai ser entrevistada na Deloite para fazer ou contabilidade ou auditoria, consultora! Como estagiaria pode ganhar 200EUR e depois, com alguma experiencia, pode chegar aos 400EUR. Por mes, claro! Em Lima um empregado de mesa ganha 120EUR por mes. Lembrei-me das minhas amigas alemas de Geneve que trabalham na Procter & Gamble como consultoras (emprego muito semelhante ao da Melissa) mas que ganham mais de 10 vezes mais. A desigualdade de oportunidades está sempre a dar-nos chapadas aqui. E a Melissa é uma priviligiada que pode ir ah universidade!
Felizmente o almoco foi gigantesco e o pisco e cerveja nao fizeram muito efeito.Com o Luis falei do japao. Ele é bem de direita. Como todo o bom direitista aqui (e tambem em Portugal) trata os actuais presidentes sulamericanos de comunistas. Mas o mais interessante é o que me conta do Japao... okinawa, os seus avos, os samurais e o seu sistema de honra, a relacao do japao com a china, como ele ve os chineses (antipaticos), o orgulho de o japao nunca ter sido dominado por nenhum outro pais, orgulho na ocupacao da korea e taiwan antes da segunda guera mundial, os kamikazes que os muculmanos copiaram, o corpo a corpo imbativel dos samurais so vencidos pelas bombas atomicas, "se um samurai faz algo de errado espeta o sabre no peito". Entretanto a musica japonesa antiga soava... anos 30 no japao. Depois a Claudia ja estava bebada e mudou para o bem moderno REGEATON!!! A Melissa, que se tinha juntado ha pouco ah festa, ja tinha ido para a cama porque estava bebada. E "nós, outros" ja estavamos todos, ah volta da mesa, a abanar o corpo, incluindo o Luis. A Luisa sentada no sofa, muito calada.
Nao falo do que falei que voces ja sabem. A curiosidade do Luis é infinita: Portugal, o Brasil, a Europa, os telemoveis, e de tudo um pouco. Sabe pouco sobre estas coisas, mas esta sempre pronto a disparar uma pergunta pertinente e simpatica.
Uma sessao de fotos e um taxi para uma discoteca para bailar salsa e regeaton. Ninguem tinha energia, pela noite anterior... e fomos todos para casa.
Lembro-me que ainda estive a explicar ao condutor do taxi o que era a separacao do lixo. E de ele me falar da estatua do Pizarro (o conquistador espanhol de lima) que foi retirada ha 4 anos da praca central pelo presidente da camara (alcaide) indigena. Com protestos da embaixada de espanha, claro! Ha que idolatrar o assassino!!! Aqui ha que ter orgulho na parte branca dos nossos genes, ou nao!
Hoje acordei com um grupo de gente de meia idade a cantar musica religiosa no atrio do hostel, todos brancos, todos com aspecto de ricos. Pacifica a musica. Mas acordei a insulta-los. Descendentes de assasinos, como eu!
E assim foi o meu fim de semana...
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2 comentários:
Claro que teu blog � procurado todos os dias e todos os post s�o passados a pente fino.
Tenho feito outros coment�rios mas n�o entram,sabe-se l� porque!
Por aqui a inveja desse teu passeio � imensa, mas falta-lhes coragem!
continua�o de BOA VIAGEM
Hoje, em vez de tomar conta dos computadores, estive a viajar pela america do sul.
Abraço e boa viagem,
V
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