01 maio, 2007

o medo

Incêndio
Se conseguires entrar em casa e
alguém estiver em fogo na tua cama
e a sombra duma cidade surgir na cera do soalho
e do tecto cair uma chuva brilhante
contínua e miudinha - não te assustes

são os teus antepassados que por um momento
se levantaram da inércia dos séculos e vêm
visitar-te

diz-lhes que vives junto ao mar onde
zarpam navios carregados com medos
do fim do mundo - diz-lhes que se consumiu
a morada de uma vida inteira e pede-lhes
para murmurarem uma última canção para os olhos
e adormece sem lágrimas - com eles no chão.

al berto in Horto de Incêndio
http://luisramos.net/poetry/um_so_poema.php#alberto

2 comentários:

Anónimo disse...

Lemos emocionados o teu blog e a descrição do vosso acidente.Impossivel qualquer comentário.
Um abraço para todos.
Beijos Pai e Mãe

Anónimo disse...

Tremo quando leio o que aconteceu. Interrompo a leitura: se nao ler, se nao souber, pode ser que o passado se retire, que deixe de existir ou acontecer o que aconteceu... como se as coisas más pudessem ser travadas, ou apagadas, com uma borracha que tiramos do porta-lápis.
Mas depois regresso á leitura, (brincar-a-deus não resulta) e abro mais os olhos para que as lágrimas nao turvem as letras... e penso duas coisas, por esta ordem, mas nao de igual importância: tenho saudades tuas; estás proibido de morrer.
Um beijo